terça-feira, novembro 08, 2011

GRÃO MOGOL OSTENTA UMA PEDRA QUASE SOLTA NO AR

Quando Bill contou sobre a grande pedra quase solta no ar, nas imediações do hotel Paraíso das Águas, em vias de ser inaugurado em Grão-Mogol, no Norte de Minas, de propriedade do ex-vereador, ex-vice-prefeito e ex-prefeito João Costa de Oliveira – o Nem – confesso, não acreditei. Precisava fazer como São Tomé: ver para crer.
Fomos lá; ele, Lúcio Bemquerer e eu armados de uma câmara fotográfica a fim de registrarmos a tal pedra quase solta no ar, algo deveras inusitado. O lugar fica a poucos minutos do centro da inigualável cidade surgida no século XVIII em decorrência do garimpo de diamantes.
Paramos o carro num ponto até aonde havia trilha e depois embreamos mato adentro e logo divisamos grande quantidade de pedras. Ali, em algum tempo, parece ter sido fundo de mar, senão, como explicar o fato de as pedras terem sido desgastadas até tomarem formatos vários?
Não demorou muito e estávamos diante da pedra quase solta no ar. Em realidade, o formato dela é de uma nau antiga, daquelas usadas por Pedro Álvares Cabral para visitar as terras do Brasil e Cristóvão Colombo utilizou para ocupar a América dos antigos Maias.
A majestosa pedra – veja a foto, garantia da veracidade da informação – é de fato extraordinária. Olhando-a de todos os lados, tem-se a impressão: se alguém subir nela, de uma extremidade à outra, assim quase solta no ar, ela poderá desabar. Bill achou graça, disse: “Não tomba de jeito nenhum”, ele já subiu nela e nada aconteceu.
A pedra está apoiada numa das extremidades em três pontos. Para mim, ela tem tudo para virar ponto turístico. Contornei-a e pude contemplá-la com os próprios olhos e confesso sem a menor cerimônia, fiquei de boca aberta.
Os moradores de Grão-Mogol parecem não dar a mínima importância à pedra. Talvez porque a cidade é toda empedrada. Goza da fama de “presépio a céu aberto”. E como de fato é mesmo. Por todos os cantos encontramos pedras de vários formatos. Há uma parecida com leão sentado; há outra idêntica a galo de peito arfante cantando cocoricó; há pedra parecida com tartaruga e até uma com cara de sapo de boca aberta.
Grão-Mogol é dotada de luz própria. É histórica, mas não se parece com Ouro Preto, nem com Diamantina e muito menos com Sabará. O garimpo deixou a cidade estagnada por séculos. Esse fato nada tem de negativo. Pelo contrário. Por causa disso, Grão-Mogol é hoje modelo de qualidade de vida. Lá o ar é puro e os liquens das pedras denunciam isto.
Em Grão-Mogol não há cerca elétrica. Aliás, há uma, assim mesmo de um homem vindo de fora. Ele parece ter posses. Construiu bela casa e certamente teme ser surpreendido por alguém saltando o alto muro, por isto levou essa coisa esquisita, hoje comum nas grandes cidades, para Grão-Mogol. Razão ele não tem. Tem neurose, talvez, doença típica de quem vive nos grandes centros.
Grão-Mogol é lugar tranquilo. Lá há muito passarinho. As maitacas passam em bandos. E estão se refestelando agora com as mangas amadurecendo em todos os quintais. Sim, lá quase todas as casas têm quintais. E os passarinhos fazem a festa porque os moradores cultivam frutíferas várias. Uma delícia!
Recordo-me bem, quando criança, Montes Claros era igual Grão-Mogol. Lá as famílias sentam-se às portas das casas e batem altos papos. As portas das casas ficam abertas e o vendedor de biscoito passa diariamente. De casa em casa, ele deixa os pacotes. No fim de semana, volta e recolhe o dinheiro fruto das vendas. Há coisa melhor?
Quem vive numa cidade como Montes Claros de hoje, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro ou São Paulo, morre de inveja, tamanha paz, amizade, tranquilidade. Morre de inveja ou sente saudades, porque nos bons tempos viver era muito menos perigoso. Hoje em dia a coisa está feia e barulhenta, parecida com briga de esqueletos com foice e no escuro, em cima de telhado de zinco.
Segundo dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, montes-clarense da gema, o fim da Humanidade será de volta às cavernas. E a julgar pelo andar da nossa carruagem, ele está coberto de razão. Se o “degas” aqui estiver vivo até lá, o meu lugar já está escolhido: viverei debaixo da pedra parecida com nau antiga, quase solta no ar. Pelo menos terei a sensação de estar em alto-mar, ao sabor das ondas. (Alberto Sena)

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