quinta-feira, abril 09, 2009

CRÔNICAS


ACREDITE QUEM QUISER
Por Reginauro Silva

Até hoje Benedito Said lembra no seu programa de rádio a comparação metafórica do padre da igreja que frequentava (o ex-abstêmio) no Bairro de Lourdes:
- Entender o que é fé é a mesma coisa que entender por que a vaca come capim verde e dá leite branco...
Simples assim.
Desde os meus tenros tempos de cabelo à Príncipe Danilo e calção no meio das canelas, entendi que a melhor forma de compreender o mundo e suas entranhas é questionar o mínimo possível. Ou não questionar nada. Nem o mínimo denominador comum que acaba se transformando em máximo divisor...
A partir dessa - para alguns, alienante visão de vida e de circunstâncias -, até mesmo a postura das galinhas de dona Laura deixou de ser problema para mim. Acho que foi nessa época que criei o eslogan posteriormente utilizado em meu escritório de advocacia do edifício Ciosa: “Não pense no problema. Pense na solução”.
De fato. Cresci seguindo essa premissa, que não tem nada de missa... O que me ajudou a ‘sofreviver’ na cidade grande então chamada Montes Claros. De que adiantaria, para aquele intrépido mancebo da turma de 69 do TG 04-087 (sim, na época era Tiro de Guerra e não Exército), entender por que a galinha preta de mãe Laura botava ovos azuis, enquanto a galinha amarela só botava ovos cor-de-rosa, se comiam milho amarelo e arroz branco azedo?
Longe, muito distante, quando o esqueleto vencido de hoje era apenas um projeto de gente zanzando pelas barrancas do Rio Jequitinhonha, na então minúscula Almenara, passara noites em claro tentando decifrar um enigma formulado numa sala de aulas do Grupo Escolar Conde D’Afonso Celso, por uma professora cheirosa chamada dona Marli:
- Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
- Quem ou... o quê?
Desconfio que comecei ali a perder parte dos neurônios que tanto me faz falta hoje. Por mais que matutasse, por mais que pedisse ajuda aos universitários que não existiam, por mais que implorasse a sapiência adulta da filha gostosa de minha madrinha (vide o livro “As 74 mulheres que eu amei”, n’A Província), a questão não se dissipava, apenas mudava de posição:
- O ovo ou galinha? A galinha ou o ovo? 
Como eu era ignorante! Fosse hoje, e apenas repetiria a logística do pároco de Said:
- Sede como a vaca, que rumina capim verde e espirra leite branco...
Por que, então, duvidar da fé? Por que fuçar o google, consultar veterinários, fazer autópsias e rebuscar laboratórios para destrinchar o metabolismo duodenal do intestino delgado do ceco retal da retícula citoplasmática da cromalácia waldirdepinhovelosiana das tetas mamárias da Mulher Samambaia, se ela come caviar e dá leite branco, e dá muito mais que a vaca Mimosa? Leite, é claro!
Muito mais fácil botar (azul ou rosa...) um olho no pasto e outro no balde. Que importa se o conteúdo de um seja da cor do sumo de limão e o do outro, alvo como a inocência de uma virgem...
Como diria não o padre do Bairro de Lourdes, mas o diácono da paróquia de São Sebastião, na Vila Guilhermina, ao contemplar a filha da beata Augusta dando um lance na primeira bancada:
- Eis a pureza da fé!

PORTEIROS DE ONTEM E O CELERADO DE REALENGO
Por Reginauro Silva

Do ponto de vista psicológico, já foram feitas várias, inexplicáveis e não aceitáveis análises sobre a ação do jovem Wellington Menezes de Oliveira, que invadiu a escola municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, e massacrou 12 crianças, depois de ser baleado pela polícia e se matar. No que se refere à segurança, não se concebe tanta liberalidade no acesso às escolas brasileiras de hoje, sejam públicas ou particulares. Digo de hoje porque, antigamente, a situação era muito diferente.
Durante todo o tempo em que cursei o Ginásio e o Científico no Colégio Estadual Professor Plínio Ribeiro, nossa imorredoura Escola Normal, senti na pele, incontáveis vezes, o rigor de um sistema de segurança de alto nível, que tinha nas figuras imponentes de Noraldino e Tião uma barreira intransponível, insubornável, indevassável. Quem éramos nós, pobres alunos, para adentrar a Escola Normal depois de soado o terceiro aviso da sirene, pontualmente as 7 e 15 da noite.
As meninas, cheias de charme, usavam todo seu poder de sedução; os meninos, eternos carentes, choramingavam feito cães famintos, mas nada, nada neste mundo era suficiente para amolecer o coração de Nora e Tiãozinho (mesmo tratados com todo carinho)... Agiam como verdadeiros carrascos, tornavam-se senhores de si mesmos, mas em hipótese alguma abriam mão do cumprimento do dever, fosse qual fosse a argumentação daqueles imberbes rapazolas, daquelas moiçolas serelepes.
Mutatis mutantis, quem era esse celerado de Realengo para chegar com dois brutas revólveres, ostentando um cinturão carregado de balas, como nos filmes de Jonh Wayne, sem ser barrado na portaria por Tião e Noraldino.
E a vigilância não era só na entrada não. Onipresentes, os dois vasculhavam todo o imenso pátio, incluindo quadras de esporte e o Anexo Darcy Ribeiro, para que nós outros não gazetássemos uma aula que fosse. Lembro-me do sacrifício enfrentado por Paulo Cabaço, Sellassiê, João, Tone e Ildeu Tolentino, João Batista e Ricardo para saltar o muro dessa altura da Escola Normal. Primeiro, era preciso nomear um C.D.F. (cu-de-ferro mesmo!) ou uma das meninas para ficar batendo papo na portaria, enquanto os gazeteiros, sorrateiramente, se certificavam de que o diretor-residente Lindenberg Spíndola de Castro estava dormindo na casa nos fundos da escola. Só depois desse sacrifício todo é que pulávamos o muro, quase sempre ralando pernas e braços.
No meu caso, essas escapadelas eram até certo ponto justificáveis, pois eu me levantava às 4 da madruga para chegar às 5 ao Tiro de Guerra 04/087, trabalhava na redação de O Jornal de Montes Claros, na Rua Dr. Santos, 104 (atual agência central da Caixa), de onde saía na boca da noite, às vezes diretamente para a escola, onde permaneceria até às 11 e meia da noite. Em tese.
Tão rigorosos como Noraldino e Tião, eram os porteiros da noite Demerval e Louro, também onipresentes nas entradas da Cogumelo´s ou da Pilangos, do Max Min ou do Pentáurea, do Clube Montes Claros ou do Casebre 13,  do Zeppelin ou do Zeppelão, do Choppão ou do Clube do Ferroviário... Estavam em todo lugar, exercendo o estrito cumprimento do dever, que exigia barrar quem eles bem entendessem, inclusive no aristocrático Automóvel Clube.
Não me recordo exatamente o ano, só sei que era na década de 1970, quando tudo acontecia e nada era proibido. Era uma festa de Theodomiro Paulino, cujo esmero e elegância até hoje ocupam o primeiro lugar entre todas as promoções sociais do interior do país. Como caras-de-pau que éramos - este filho de dona Laura e Patão de dona Júlia - saímos do Quintal de Seu Ênio, na Avenida Coronel Prates, direto para o clube da Praça Dr. João Alves. Além da cara dura, éramos amigos de Louro e Demerval, homens da Comunicação e agentes culturais. Não haveria maiores dificuldades. Só esquecêramos que a festa, claro, exigia traje social completo, sendo indispensável a gravata.
Na época iniciava-se a moda da gravata fininha, algumas quase imperceptíveis. Não deu outra. Pedi a Patão os cadarços de seu tênis, enlaçamos o pescoço por debaixo do jaleco, empinamos a cabeça e passamos feito dois príncipes pela dupla implacável. Que só agora toma conhecimento de tão ingênua traquinagem.
Como o Velho Pato já se foi, estou aqui para ser espinafrado por Louro e Demerval. Theo, eu sei, vai morrer de rir...

A MULHER DOS GRANDES LÁBIOS
Por Reginauro Silva

Naquele tempo, não havia esse tanto de liberalidade que tem hoje, então, a gente tinha que aproveitar o carnaval para ver, fazer e acontecer tudo quanto é besteira boa. Durante quase todo o ano, menos no carnaval, era tudo proibido, tudo escondido, tudo excomungado. Você acha que tinha esse tanto de mulher pelada que a gente vê hoje na televisão, nas revistas, no BBB ou em qualquer esquina? Tinha nada.
Havia, no máximo, um lance oriundo de um descuido da professora corrigindo provas lá na frente ou de um sentar desastrado de uma coleguinha de escola na festa de aniversário. Calcinha mesmo, pegável, a gente só via na trouxa de roupas sujas que levava na cabeça até a beira do Rio Jequitinhonha ou no manequim prostrado sem alma na vitrine das Casas Pernambucanas.
Já rapazinho, experimentávamos a sensação de chamar uma garota para dançar e, na pista, ter o desprazer de manter uma distância respeitável e burocrática de sua mão imposta sobre nosso peito. Só de vez em quando ocorria um rápido roçar entre as roupas, mas, se alguma manifestação erótica corria a veia lá embaixo, o jeito era morder a língua para não passar vexame na pista nem receber olhares condenatórios.
As músicas eram maneiras e permitiam, no máximo, um comportado dois-pra-lá-dois-pra-cá que só ganharia contornos sensuais com a explosão do iê-iê-iê herdada dos rapazes de Liverpool também conhecidos como The Beatles. A dança quase coladinha, não fosse a mão imposta pela dondoca, cedia espaço ao bugulu, espécie de tuíste abrasileirado pela Jovem Guarda nas tardes de domingo da Record.
Beijo na boca, minha doce namorada, só depois do noivado e nem é preciso dizer que toda moça tinha que casar virgem, pois manter-se donzela era seu maior patrimônio, condição imprescindível para chegar ao matrimônio. Naquela época dos meus ancestrais que somos nós, o namoro tinha que ser na casa da futura esposa, sob as vistas rigorosas e punitivas dos pais; para ir à hora dançante, só acompanhada, a filha, por um irmão ou pelo tio careta mais próximo, que era para não chegar depois das 11 da noite.
A bebida da festa era ponche, feito à base de maçã, guaraná e um pouquinho de rum; ou leite-de-onça, que vinha a ser a mistura de vodka em teor baixíssimo com leite condensado. Como tira-gosto, sacanagem, que era sacanagem só no nome, já que constituída de um pedacinho de queijo, outro de salame, azeitona e muita pimenta.
A descrição resumida da era conservadora em que vivíamos já deu para perceber que carnaval era tudo na vida daqueles jovens contestadores da moral vigente, do status quo, da sociedade estabelecida. Avizinhava-se o ano novo e já estávamos com corações e mentes voltados para fevereiro ou março, quando tudo seria permitido, nada seria proibido, durante longos dias e noites, em todos os cantos do país.
No chamado tríduo momesco, que de tríduo não tinha nada, pois se prolongava de sexta a quarta de madrugada, aí sim, valia tudo: pernas, seios e umbigos à mostra, homem vestido de mulher, mulher vestida de homem, beijo de língua, mão naquilo e aquilo na mão, chega-pra-lá-que-lá-vou-eu, abraços e amassos, roçadelas e encostadinhas, às vezes bunda de fora, outras vezes pelinhos à mostra, trenzinho-da-alegria, fungadas no cangote, bebida à vontade, comida no matinho dos fundos, punhetinha na vizinha, pegadinha no peito obeso da diretora idem, até cair esfalfado pela azáfama que jamais queria parar, pois o mundo iria acabar dali a pouco e era preciso aproveitar os últimos milésimos de segundo. Quando pintava lança-perfume, então...
Era isso que se chamava carnaval e que ocorria uma vez por ano, no máximo durante cinco dias. Como hoje carnaval acontece o ano todo, em todos os cantos do mundo, nada melhor do que continuar transgredindo as regras. É por isso que passamos o tríduo momesco deste ano tranquilamente repousados num apartamento do Country Club Lagoa da Barra, longe de qualquer forma de manifestação pagã, no silêncio da música refrescante de Enya. Longe, bem longe, da mulher dos grandes lábios.

ENCONTRO CADAVÉRICO
Por Reginauro Silva

Ontem, encontrei-me com meu cadáver. Sério. Lívido. Compenetrado. Excessivamente gelado. Digo isto porque nada me impressiona mais no meu cadáver do que sua extrema frieza. Nem mesmo a rigidez...
Encontrei meu cadáver num corredor público. Quer dizer, um encontro mórbido num cenário idem. Como sempre, meu cadáver chegou assim sem cerimônias, estendeu a mão e ficou lá, cara de paisagem, esperando que eu o imitasse. Vagarosamente, disse-lhe oi, fitei seus olhos de imagem e ofereci-lhe as pontas dos dedos. Tudo sem pressa, no compasso da lerdeza circundante.
Vultos passavam ao largo e não davam conta de nossa presença naquele corredor burocrático. A sensação invisível é de que não acrescentávamos nada à pasmaceira ambiental, assim como aqueles fantasmas também nada agregavam à nossa insensatez. Éramos dois insossos flutuando num mar de isopores. Eu e meu cadáver.
Projetava-se no horizonte o fim das vontades;
O fim das querências; 
O fim das liberdades;
O fim das carências.
Lia-se no semblante sem alma do meu cadáver a falta de ação;
A falta de atenção;
A falta de tesão;
O excesso de ilusão.
Entre mim e meu cadáver imperava o amor que se foi;
A paixão que passou;
O beijo que marcou;
O gozo que miou...
Sorvíamos, eu e meu cadáver, o gosto amargo do fel;
O torpor da anestesia ambivalente;
O silêncio da madrugada indormida;
O murmúrio do jazigo revisitado.
Algumas lições tiradas do encontro entre mim e meu cadáver:
Não se pode tentar o imponderável;
Não se enxuga gelo com toalha;
Não se derrete barriga de sorvete;
Não se constrói sobre pilares de nada.
Pensava tudo isso enquanto meu cadáver fitava o horizonte como se contemplasse a desconstrução da constituição. Como se descomesse a epiderme espiralada do castelo ambíguo da depressão acasalada.
Por mais que assim sugerisse, eu não conseguia de toda forma embalar-me pela suavidade disforme daquele cadáver prostrado naquela esquina administrativa, como se nem cadáver fosse. Como se fosse uma coisa. Recusava-me, assim, a destruir minhas partes como se imerso numa repentina serpentina de células e neurônios congelados em massa de ectoplasmas.
Meu cadáver, va-ga-ro-sa-men-te, começou a adentrar o mundo depressivo da aridez endêmica em que se transformara, mas eu relutava em seguir-lhe os passos, por mais convincentes que fossem seus desargumentos. Num quase inaudível sussurrar, soletrou então meu cadáver que estava indo embora.
E se despediu sem maiores cerimônias.   

A FELICIDADE EXISTE. E NÃO É TRISTE
Por Reginauro Silva

A Felicidade existe. Existe e está pertinho de nós, ali mesmo em Antonio Olinto, a pouco mais de 10 quilômetros de onde estou, aqui no Centro de Montes Claros. E não é essa felicidade etérea, filosófica, decantada em livros de Paulo Coelho e chamuscada em programas matinais tipo Ana Maria Braga. A Felicidade a que me refiro – com efe maiúsculo - é real, de carne e osso, tem cheiro de dama-da-noite e formato de estrume de boi.
Comecei a sentir a Felicidade logo de manhã, quando fui pela primeira vez
recenseado pelo IBGE. Magrinha, educadinha, com a doçura de mãe e a paciência de Jó, a funcionária do instituto trazia no crachá a identificação de Luciene Barros, e na mão uma minúscula engenhoca eletrônica que tanto pode ser ipod ou ipad e sobre a tela da qual assinei minha rubrica ao final da entrevista. Quanta Felicidade em me sentir inteiramente inserido, como um fantástico grão de areia, na recontagem que em breve engordará a população do meu país!
Ainda respirando cidadania, enchi-me de sonhos e mistérios ao me encaminhar em busca de mais Felicidade, agora em companhia de Laura Walma, Gerval e dona Geralda Magela, todos possuídos do mesmo prazer de viver e se eternizar no exercício diário da amizade entre os povos.
A BR que dá acesso ao entroncamento de Antonio Olinto está novinha em folha com a reforma em conclusão. Tudo muito vistoso, inclusive o trevo da Ponte Branca, que haverá de receber mudas alto-falantes de palmeiras, barrigudas e coqueiros, humanizando ainda mais o direito de ir e vir.
Em direção aos clubes campestres do DER e da Sucam, o carro desliza limpo pelo asfalto, até sentir o gostinho avermelhado da poeira da outrora Vila de Formigas, já quase chegando em Antonio Olinto, onde a Felicidade fez morada e dali jamais arreda pé. No borbulhar da chocolateira ou no cheirinho do café.
Urucum, ora pro-nobis e berduega. Maxixe, cenoura e couve-flor. Coentro, mastruz e quiabo. Laranja, amora e feijão catador. Girassol, cebolinha e mamoninha. O mundo da Felicidade se estende do campinho de futebol aos dormentes da linha férrea que passa por cima do riacho Cruzeiro, sossegado na secura de agosto. Por dentro da casa de telhas de 7 Lagoas e armação de madeira de lei abraça-se a descendência da Felicidade bisavosamente encarnada na figura esbelta de dona Lucinda, entre sussurros e confidências de Carmina, do inquieto Dai e quantos mais vierem aportar no sítio-fazenda de mais de 50 galinhas, três galos e um cocá. Fora as jandainhas...
É justamente ali que a Felicidade se apresenta doce, linda, inteira, no abraço apertado, no sorriso ameno, no dançar dos olhares, nas altas considerações técnicas e metafísicas sobre a temperatura ambiente, os voos de Andrezinho no motocross, o biscoito fofão feito no forno da varanda, a textura inigualável do queijo trazido de Quem Quem, o leite fresco da cabra que só come beiju...
E o domingo se dilata cheio de paz, alegria e bem-aventurança rumo ao paraíso da Lagoinha, onde se impõe o império gastronômico de Seu Pimenta e Dona Joelisa, imortalizados na leveza de trato e na sensibilidade mineira da empresária-poeta Marlene, e sob as bênçãos da voz encantada de Rose Viana e seu mágico violão. Como se fora Edith Piaf. É ali, ouvindo as canções que Rose fez pra mim, que me embalo – divinamente – nas ondas da Felicidade. Que se enrosca em mim como um redemoinho de contentamentos.
Sem princípio, meio nem fim.





TODA A VERDADE SOBRE A ORIGEM DO CATIBUM
Por Reginauro Silva
Eu demorei muito para começar a escrever este relato por um motivo simples: não sabia por onde começar. Aliás, nenhum dos componentes do Catibum, pelo que pesquisei até agora, teria um componente real para dizer como é mesmo que se deu o nascimento daquele que viria a ser um marco na cultura montes-clarense. Sem nunca ter sido... Porque, na realidade, o Catibum começou e se desfez sem que nenhum de seus componentes se desse conta do que estava acontecendo. Ou do que não aconteceu...
Até hoje, quase quatro décadas depois daqueles meados dos anos 1970, nem Luís Carlos Peré nem Tadeu Leite nem Maria do Carmo nem Fernando Rubinger nem Durvalzinho nem Martha Ulhoa nem Márcia Sá nem Eduardo Lima nem Georgino Júnior nem Rita ou Clarice Maciel nem eu nem ninguém sabe, em sã consciência, quando, como e por que aquele grupo de malucos que gostava de ouvir Big Boy e Hélio Ribeiro na rádio Globo, ler livrinhos da Ediouro, fazer palavras cruzadas da revistinha Coquetel, usar cintos de fivela larga, detonar os enlatados musicais americanos, curtir a jovem guarda em horas-dançantes, chupar picolé na Cubana e ler as entrelinhas do Pasquim que escapavam da censura – ninguém sabe ao certo qual era mesmo a daqueles caras...
De repente, sem que percebêssemos, compúnhamos um agrupamento de rapazes imberbes e moças virgens que tinha por objetivo central promover uma revolução na literatura nacional, fazendo valer a máxima de Mc Luhan de que o mundo se transformaria numa aldeia global interligada por uma rede de cabos e que o universo se resumia à roça de Guimarães Rosa - “A roça era um lugarzinho descansado bonito, cercado com uma cerquinha de varas, mó de os bichos que estragam. Mas muitas borboletas voavam.”
Foi assim, no embalo roseano, que aquele punhado de desprovidos da grana marcaram de se reunir uma vez por semana - ora na casa de um, outra vez na casa de outra – para discutir literatura e outros bens culturais. Nossas reuniões eram movidas a refrescos quase gelados tipo ki-suco, biscoitinhos da padaria Brasil ou Santa Rita (não havia a Real ainda), troca de elogios múltiplos e muita, muita falação. Poema, mesmo, aparecia um ou outro; conto, crônica, artigo, só os publicados recentemente nas raras páginas literárias ou manuscritos durante as próprias reuniões e lidos timidamente, para gáudio de todos:
- Nossa, como você escreve bem! Está lindo, divino, maravilhoso!
Mas aqueles pseudo-chás das noites de segunda-feira não se encerravam em si mesmos. Saíamos dali em grupelhos de dois ou três e íamos encerrar a noite num banco de praça ou no restaurante A Mineira da Rua João Souto. À exceção da noite/madrugada em que saímos todos juntos da casa de Márcia Sá, na Rua Carlos Pereira, para colocarmos um penico na mão estendida da estátua do ministro Francisco Sá, na Praça da Estação. Fizemos tudo bonitinho, tudo organizado, inclusive destacando Martha Ulhoa para desviar a atenção do guarda noturno enquanto adentrávamos o jardim, se não fosse um único e definitivo detalhe: esquecêramos de levar o urinol...
A pureza do Catibum e a ingenuidade de seus integrantes foram por terra quando, após a publicação de uma notícia pelo jornal O Globo, do qual éramos correspondente no Norte de Minas, a editoria do telejornal “Hoje” destacou uma equipe para fazer uma sonora em Montes Claros. Aquilo, para nós, era ao mesmo tempo um sonho e um pesadelo. Um sonho pela abertura das portas da fama para um despretensioso bando de marginais da cultura nacional incrustado no sertão de minas. Um pesadelo por não sabermos o que mostrar à equipe de reportagem que viria nos reportar... Mostrar o quê, se nos resumíamos a nós mesmos, se não havia nada de concreto para expor o que se passava por nossas cabeças toscas?
Certo é que bastou a longa reportagem de 2 minutos ir ao ar em uma edição vespertina da rede Globo para o grupo se desfazer como a origem de seu próprio nome: uma pedra atirada à água de um riacho que provoca um rápido barulho (ca-ti-bum...) e uma sucessiva onda ao redor de si mesma, até sumir no infinito de nossa imaginação...

SOBRE AQUELE ORGASMO
Por Reginauro Silva
Se eu pensasse bem, teria sido juntinho. Ou muito próximo. O pior e o mais dramático é que dona Menina não me ensinou a ritmar pela velocidade das outras. Sendo assim, acabo me guiando pela própria mente, o que é lastimável sobre todos os aspectos. Porque, convenhamos, não tem nenhum sentido sair por aí se luxando com casaca alheia, quando não lhe é permitido adquirir ao menos um simulacro de vestimenta característica das pessoas não-pensantes. Ou pensantes de meia tigela...
Como, então, exigir coerência de quem nunca primou pela organização exacerbada dos talheres com os quais se serve nas orgias mundanas? Porque, Futuquinha, nunca lhe foi dado racionar conforme as equações da física quântica apresentadas por um professor com título de doutor que formula teses sem nenhum cacoete para distinguir um ovo de galinha de uma camisa rosa do galo etc e tal.
Sei que, daqui do alto do ultraleve (agradeço a carona oferecida pelo Primo, amigo de Amerquinho), contemplando a mim mesmo sobre o estertor da fantasia espiralada, sei que você deve estar se achando a última bolacha do pacote. É natural que isso ocorra quando se trata de uma pessoa que, no inverno passado, teve o desplante de limpar a casa inteira e me deixar sem sequer um coador para fazer o café do dia seguinte para minha filha. Foi ali que comecei a pensar em des(pensar) todo seu eu. Mesmo já sentindo meu ego des(pensado)...
E, pensando novamente bem, nada indica que o resto de cerveja que você depositou no fundo da lagoa do Parque Municipal tenha alguma similitude ao vômito por você derramado na saída da comida de boteco. Não senti náusea, senti um calor destroçando os tímpanos e penetrando feito vara verde na febre amarela de um rato em exibição macrobiótica, quando o cerne de nossa discussão era essencialmente nano. Altamente erótico. Mas você vomitava sem parar palavras e mais palavras, palavrões e mais palavrões...
Não vá me dizer agora, Porqueirinha, que dançar pelada sob o ventilador de teto do Scala é a mesma coisa que defender falsos conceitos conservadores, a despeito da fervura da salada destravando a trempe da cozinha que você nunca soube honrar. Nada disso.
De minha parte, Melequinha, não vou ficar aqui ruminando ao redor de meus botões se devo ou não outorgar-lhe um direito hereditário que você jogou pelo ralo no primeiro formigueiro em que nos beijamos. Não seria nenhum despropósito, aliás, lembrar-lhe que – naquela noite - a seleção de vôlei completava 87 sets invicta, sem que você jamais tivesse aceitado pisar a pista de saibro. E vem agora, com esse semblante de maçã apodrecida, querer impor vontades que nunca teve... Ora, ora!
Com todo carinho que sempre norteou o respeito que tenho pela torcida do Fluminense, acho tudo isso uma grande frescuragem de sua parte! Veja que esta é a primeira vez que uso este termo (respeito) para me referir a seus cabelos sedosos e gelatinosos, mas - vamos e venhamos - você provocou tudo, concorda comigo? Sempre foi assim! Então, que arqueie feito uma velha e destravada taramela, carcomida em sua mais pungente colheita infeliz, para não aproveitar nem a semente do substrato da camada de pré sal. Porque já não me apraz esse cheiro de cocô com mel que emana das futricas coletivas que encontram eco em seus ouvidos de aluguel. Para, na hora agá, jogar tudo – impiedosamente - sobre meu pobre, sofrido e apaixonado sentimento de amor eterno, fiel e verdadeiro, duvidando e massacrando, massacrando e duvidando, duvidando e massacrando, massacrando e duvidando, duvidando e massacrando...
E ainda vem me perguntar se gozei!

PERU ASSADO
Por Reginauro Silva
Pra falar dos dribles que João Monstrengo dava na mulher é preciso mostrar um pouco do seu caráter, da sua esperteza. Nascido pobre, teve uma infância em preto e branco, sem aventuras nem emoções. A adolescência, pior ainda. Por falta de recursos, os pais não puderam custear os seus estudos. Mesmo nunca tendo ido à escola, João Monstrengo aprendeu a fazer contas. E foi aí que se enriqueceu.
Juntando cada moeda que lhe chegava às mãos, formou, aos 25 anos, um capitalzinho miúdo para o comum dos mortais e graúdo para os mais vivos. Comprou uma pipoqueira e enfiou a cara no trabalho. Não almoçava, jantava pedaços de pão, dormia no chão, andava de chinelos emprestados, não bebia, não fumava, não fazia aquilo, não gastava nada.
De pipoca em pipoca, ficou rico. Abriu conta no banco e briquitou, briquitou, até achar uma mulher que topou casar-se com ele. Para dizer a verdade, Lalá era uma putinha que serviia no cabaré de Roxa, mas uma putinha decente, de linha, digna como a mais fiel das mulheres. De tão apaixonado e contente, João Tristonho fez um festão no casório. Gastou mais que deputado mineiro na boate Sagytarius. Mas gastou satisfeito.
Já na noite de núpcias, sentiu o calor da disputa. "Bom demais!", repetia pros amigos. Trezentas e trinta e oito mil e duzentas e quinze rela-relas depois recobrou os sentidos e voltou à batalha. Só que não mais para o pool de pipocas, mas para a contravenção. Por influência da agora dona Lalá, montou uma banca de "empréstimos de emergência".
Os juros que cobrava eram tão altos que nem uma escada Magirius, do Corpo de Bombeiros, conseguiria alcançar. Para dizer qual era a taxa, João Tristonho abria as duas mãos e as balançava duas vezes. Se o freguês não se assustasse, emendava: "As quatro, mais as sombras no chão". Quer dizer, 40%. Se o cidadão era mais besta ainda, juntava os dedos dos pés e os juros subiam para 50%. Daí para mais.
Não foram poucas as vezes em que tomou a casa, o carro, o telefone, a fazenda, o lote, o botijão de gás, a geladeira e até o urinol do devedor. Quando o pobre coitado dizia que não tinha nada, mas nada mesmo, João Monstrengo tomava a mulher dele. Isto mesmo: zerava a dívida - cujo capital já fora zerado inúmeras vezes -, mas ficava com o patrimônio conjugal do inadimplente. Com isso, juntou muito mais dinheiro e um monte de mulheres. Pretas, brancas, vermelhas, amarelas, pardas, marrons, rosas, boninas, mulheres para todos os gostos, de todas as cores, tamanhos e formatos.
Durante muito tempo, João Monstrengo conseguiu manter seu harém escondido da ciumenta dona Lalá. Um dia, a malandragem veio a furo. Puto por ter os seus bens levados à praça pública pela ganância do agiota, professor Serapião, decano da cadeira de Português na Escola Normal, armou um flagrante colocando dona Lalá na fechadura, que escancarava mais uma sessão de pouca-vergonha do monstrinho, agora com a mulher do gerente do banco. Olhou e saiu, horrorizada!
Lá pelas duas da madruga, João Monstrengo chegou. Acordou a mulher com uns tapinhas no bumbum e pediu a ela para esquentar uma água. Não estava agüentando de cansaço, tadinho! Os pés estavam cheios de bolhas de tanto andar, disse. "Pois sim!", deu com a cabeça a mulher.
João Monstrengo tirou a roupa e se deitou de barriga para cima, nu e cabeludo. Dona Lalá demorou e ele caiu no sono. Calmamente, como uma montanha de gelo, dona Lalá pegou a panela quando a água já subia pelas paredes de tão quente. Pé ante pé, ca... mi... nhou até o quarto, riu baixinho e despejou a panela sobre o saco de João Monstrengo.
Ai!!!
A ALIANÇA
Por Reginauro Silva
Aliança, como se sabe, é um acordo que remonta aos templos bíblicos e pode ser encontrada, por exemplo, na união de Cristo com os povos hebreus e com os coríntios, que nada têm a ver com o Crointhians de Tevez. Num relacionamento afetivo, significa o casamento entre duas pessoas, do mesmo sexo de preferência, com a imprescindível ou às vezes desnecessária bênção cristã, católica ou não.
Tem profunda simbologia, portanto, mais ainda quando ungida a partir de verdadeiro amor. Desde as sociedades tribais até os dias hodiernos, apesar do isolamento imposto pela internet e pelo exercício do verbo ficar, a aliança é respeitada e encarada como um ato concreto, real, de profundo sentimento de entrega e doação.
Para uma família conservadora como a de Salete, então, andar com a aliança à mostra, incrustada no dedo médio, é condição sine qua non para gritar ao mundo que há um comprometimento inexpugnável entre um homem e uma mulher. E Justino sempre soube disso. Tanto que, desde que pedira Salete em casamento, numa inesquecível festa de noivado, jamais tirara a aliança. Assim até subir ao altar e desposar aquela que seria sua eterna namorada.
Tudo na vida tem limites. E as exceções nasceram para ser experimentadas. No retorno de uma viagem a Belo Horizonte, como sempre a trabalho, o agente lotérico Justino resolveu tirar o dia – e a noite – para um descanso em 7 Lagoas. Já um tanto quanto mal intencionado, ligou para Salete e disse que teria uma reunião na Loteria mineira na manhã seguinte e, por isso, teria que atrasar o retorno a Montes Claros
Iniciando o turismo doméstico, deu uma passada na gruta Rei do Mato, onde se maravilhou com as estalactites que decoram os imensos salões de pedra e água corrente. Sentiu-se transportado para um mundo distante, refazendo energias com a luminosidade daquele verdadeiro patrimônio da humanidade.
Já de tardezinha, Justino resolveu apreciar o pôr do sol na serra de Santa Helena, bendizendo-se na capelinha romântica de beleza só comparável à igrejinha do Rosário de sua terra natal, só que sem o esplendor do Parque Náutico da Boa Vista. Depois de prestar contas com Deus, impressionou-se com a beleza do Parque das Cascatas e o mini-zoológico e, já na cidade, hospedou-se no Lago Hotel Palace, bem no centro, parque integrante do conjunto arquitetônico da Lagoa Paulino.
Claro que havia – e há – outras seis lagoas para o deleite dos turistas, mas Justino preferiu, talvez por comodismo, ficar por ali mesmo. O hotel atendia perfeitamente à sua necessidade de um relax perfeito, sem ficar nada a dever a outras hospedagens três ou cinco estrelas de Belô. Tomou um banho e se dirigiu para a Lagoa Paulino, bafejando o início da noite com a magia das aves e das flores que emolduram a maciez da água limpa e cristalina.
Àquela hora havia não mais do que uma dúzia de mesas ocupadas, uma das quais chamou a atenção do montes-clarino. Não pela mesa em si, mas pela loura cinematográfica que a ocupava. Mais deliciosa, ainda, era a troca de olhares que se seguiu, com a gatinha praticamente convidando Justino para se chegar. O que aconteceria um quarto de hora depois. Cuidadoso, malandro que só ele, Justino teve o cuidado de – pela primeira vez em 16 anos de casamento, fora o namoro e o noivado – livrar-se da vistosa e pesada aliança da mão esquerda. O que fez com imenso peso de consciência – mais pesado, até, do que a própria gramatura daquela argola de ouro 18. Só que, por um inexplicável capricho do destino, um deslize e... thibum! A aliança rolou pelas mãos nervosas de Justino e mergulhou por sob as águas da Lagoa Paulino, sem bem barulho fazer.
Ao microfone da pista de dança, o dono do bar-restaurante anunciou que ganharia uma recompensa de R$ l mil quem conseguisse encontrar a aliança do freguês. O que bastou para que garçons, bar-man, coqueteiros, DJs, músicos, cozinheiros, flanelinhas, visitantes e freqüentadores sete-lagoanos e o próprio dono do panorâmico barzinho pulassem lagoa adentro, em busca do tesouro desgarrado.
Demorou, mas um engraxate achou a aliança e a entregou a Justino mediante o pagamento da recompensa. Quanto à loura, até hoje...


BAIANINHO JÁ TEVE GALINHAS DE TODAS AS CORES
Por Reginauro Silva
Uma das lembranças que eu trouxe da Bahia foi um casal de pintinhos que, aliás, com o passar do tempo, dona Laura descobriu que não era casal coisa alguma, mas dois pintos machos, que logo virariam frangos e, na seqüência, um par de galos de dar inveja à vizinhança, de tão robustos, vermelhos e sadios. Tanto que um deles não durou muito. Foi parar na panela de um mais esperto do pombal.
O baiano sobrevivente ganhou intrepidez e robustez que nada se assemelha ao apelido dado por dona Laura: Baianinho. Desde então, é Baianinho pra lá, Baianinho pra cá. Um chamego que só se vendo. De tão mimado, Baianinho vive sempre na maior mordomia, cercado pelas mais belas galinhas da redondeza. Duvido que algum outro baiano tenha comido tantas galinhas mineiras quanto Baianinho... O terreiro tem, no mínimo, doze exemplares sempre à sua disposição. E que disposição!
Com Baianinho não tem esse negócio de preconceito, não. É loura, branca, ruiva, morena, cinza, laranja, vermelha, roxa, bonina, pedrês, rajada, pintada, azul, verde, furta-cor. O que vier, ele traça. E não é só galinha, não, rapaz! A gata lá de casa só passa perto dele de lado... A cadelinha volta e meia desanda a correr, com medo das investidas de Baianinho. Mesmo urubu (ou urubua...), quando posa no poste da esquina, olha meio de lado, perscruta o ambiente, mas quem é que disse que desce? Se descer e for confundido com uma galinha de macumba, crau!
A impressão que a gente tem é de que Baianinho, atribulado por tantas atividades heterossexuais, nem dorme mais. Mal acaba o Jornal da Globo, nem bem a Ana Paula Padrão emite aquele boa noite sensual, e Baianinho já está em ação. É o seu BBB particular. Sem câmaras de TV. Começa a cocoricar sem parar, arrasta as peruas, ou melhor, as galinhas poleiro abaixo e quem disse que fica mais sossegado? Passa a madrugada inteira visitando um e outro receptáculo de sua tara ambulante.
Tem uma galinha do pescoço pelado que já está com a cabeça também à mostra. A rodilan perdeu as penas da cacunda e as caipiras, coitadas, mal conseguem andar sobre as pernas, as costelas igualmente escoriadas pelo bico do marajá. E tem uma pintinha amarelinha que, desde o mês passado, ando desconfiado de que já perdeu a virgindade, também, pois não sai da cola de Baianinho. Estupro, com certeza, meu rei!
Mas, como tudo na vida nasce, cresce e fenece, o Baianinho, certamente devido à sua ininterrupta atividade sexual e ao interminável esforço físico, anda meio macambúzio ultimamente. O que bastou para que uma plêiade de famintos, aí incluídos Ernane (campeão no consumo de galo velho) e todos os sobrinhos, tios, primos, netos, genros, noras e cunhados, cresceram o olho em cima de Baianinho. Não por dó ou piedade de sua crista baixa e seus passos trôpegos atrapalhando o tráfego, mas de olho nas suas coxas, nas suas asas, no seu peitoril, que dão pra fazer um banquete à Duca e Nazareth. Agora, a equação se inverteu: está todo mundo querendo comer Baianinho. Menos eu e dona Laura. Querem por que querem levá-lo à panela de pressão de um dia para o outro, antes que a gota se abata sobre suas esporas.
Essa pressão é tão grande que, anteontem, dona Laura resolveu arranjar um galo novo para dividir o harém com Baianinho. Acho que foi um jeito de evitar o sacrifício do galo velho, arranjando-lhe uma aposentadoria sem remuneração. Mesmo porque, se morto fosse, seria um deus-nos-acuda para suas quengas apaixonadas. Dona Laura voltou do mercado com um galo garnizé zerado, novinho em folha, e soltou no terreiro.
Percebendo que perderia suas funções, Baianinho foi conversar com o seu substituto:
- Olha, eu sei que já estou velho e é por isso que dona Laura foi buscá-lo no mercado. Mas será que você poderia deixar pelo menos duas galinhas para mim?
- Que é isso, velhote? Vou ficar com todas, ta sabendo!
- Mas só duas... - insistiu Baianinho.
- Não! Já disse! Essas vagabundas são todas minhas!
- Então, vamos fazer o seguinte - propõe Baianinho - apostamos uma corrida em volta do galinheiro. Se eu ganhar, fico com pelo menos duas galinhas, só a do pescoço pelado e a pedresinha... Se eu perder, são todas suas, inclusive a pintinha amarelinha.
O galo jovem mede o galo velho de cima abaixo e pensa que certamente ele não será capaz de vencê-lo:
- Tudo bem, coroa, eu aceito.
Baianinho acrescenta:
- E olhe, já que minhas chances são poucas, deixe-me ficar vinte passos à sua frente. Pode ser?
O galinho recém chegado olhou pra Luiza, olhou pra Rafaela, pensou por uns instantes e aceitou as condições.
Iniciada a corrida, o galo zero dispara para alcançar Baianinho. Que faz um esforço danado para manter a vantagem, mas rapidamente está sendo alcançado pelo garnizé. No momento em que Baianinho ia ser alcançado pelo novato, dona Laura, que acabara de sair da cozinha, vendo aquela cena inusitada, o galinho que comprara quase enrabando Baianinho, sem entender o que via, vira-se para mim e filosofa:
- É, acho que comprei um galo veado...

CHICO E CELINA NO LEBLON
Por Reginauro Silva
Só mesmo uma cidade de contrastes como Rio de Janeiro pode proporcionar imagens como as da imensidão da favela da Rocinha pendurada em pedras gigantescas e a tranqüilidade dos condomínios de São Conrado, exatamente do outro lado da Avenida das Américas, vindo do Recreio dos Bandeirantes para a zona Sul. Chico ia pensando nessas disparidades de uma cidade maravilhosa transformada em asquerosa pela falta de caráter quando adentrou o túnel em meio a luzes e o tilintar do celular.
Fora de serviço.
Saiu do túnel e o aparelhinho voltou a tocar. Era ela. Por precaução, deu uma parada, disse alguma coisa como estou chegando e, pela centésima milionésima vez dividiu-se entre o paredão à sua esquerda e o mar à direita, este lambendo a rocha ao mesmo tempo com sofreguidão e uma inesgotável calmaria. A Avenida Oscar Niemayer é outra intervenção fantástica do homem com a natureza, estendendo seus tentáculos por sobre uma quilométrica pista aparentemente suspensa sobre o imponderável.
Chico ultrapassa o frescão e vai ao encontro de Celina na Lagoa Rodrigo de Freitas, deixando momentaneamente o Leblon para trás. No barzinho do Ó, bem em frente ao semáforo que vai dar no clube dos Libaneses, passando pela Rua Nascimento Silva, lá está Celina, esplendora, na flor dos seus trinta e poucos anos, bem menos que seus sessenta e alguns meses. A impressão é que não mudara nada depois que se casara, naquele verão de 1999.
Oi!
Tudo bem!
Abraçam-se. Beijam-se. Afagam-se.
Quanta saudade!
E os filhos, como vão?
Só se permitem uma e outra intimidades em família, que o tempo urge e a vontade de se reencontrarem plenamente é demasiadamente muita. Resolvem deixar os carros por ali mesmo e vão andando até a Rua Tom Jobim, esquina com Vinicius de Morais, onde param para outros requintes de carinho. Já estão na Vieira Souto quando Chico começa a cantarolar no ouvido de Celina que, de olhos inebriantes e inebriados, escuta ora o ranger do mar, outras vezes o sussurro do amante.
Já no Leblon, Chico, delicadamente, tira a saída de praia de Celina, que revela ao mundo toda a beleza da mulher brasileira em primeiro lugar. Chegou sua vez de cantar. E ele canta, ali mesmo. Num repente, abraça Celina e sai correndo com ela mar adentro. Um mergulho e já estão sedentos de paixão, o fogo da sexualidade corroendo todas as entranhas e se destroncando na sucessão de ondas, marolas, jacarés.
Eu te amo muito, muito, muito...
Eu te amo muito, muito, muito também...
O tempo já não espera. O tempo é logo. Agora. De volta à praia, já não há biquíni. Cúmplice, o mar levou. O corpo de Chico esconde o monumento em forma de menina. O corpo de Chico só não consegue esconder suas vontades. Estende a saída de praia e deposita levemente sua amada sobre o leito natural. Com um grunhido, Celina reclama do vento que joga o tecido sobre seu corpo. Serelepe, Chico corre até a barraca do posto 6 e traz quatro latinha de Coca Cola, colocando cuidadosamente uma em cada ponta da saída de praia.
Sem camisinha, eu não transo.
Claro, claro. A camisinha. Chico sai corrente em direção ao barzinho do Durães, na Sá Ferreira, em busca de uma caixinha de preservativos.
Saindo do meio daquele areião, um bêbado quase tropeça naquele corpo maravilhoso estendido sobre a saída de praia, nuzinho em pelo. Como se contemplasse uma estrela da nova novela das oito, com a vantagem de não estar vestida com aqueles vestidos carrancudos de Barretos, o bebum olha pra jovem peladinha, protegida unicamente pelas quatro latinhas de Coca, e filosofa:
- Eu queria ver é a Pepsi fazer uma campanha como esta...

É MUITO DIFÍCIL ENTENDER A MULHER...
Por Reginauro Silva
No início, não entendi nada do que ela falava. Talvez devido a essa mania atávica que tenho de querer desentender a mulher desde aquela história da costela de Adão. Ou seria da costela de Eva? Ou da costela de ambos? Ou seria coisa do GLST? Havia GLST no paraíso ou isso é invenção dos freqüentadores da Avenida Sanitária? Porque é só abrir um barzinho e logo o ambiente é dominado por esse movimento de todos os quadris. Que entende de tudo, menos de mulher. Mas que dá palpite, disso não tenha dúvidas!
Não importa, deixa essa cambada pra lá. O fato é que eu não entendia ou não queria entender por que os dois namorados criaram um cantinho do amor numa república 100% feminina... Já aí prenunciava-se uma discussão sem fim, pois houve uma época em Teresina, lá no Piauí, em que o então amante dela – da tal mulher - fora flagrado no conhecidíssimo Castelo do amor. Que funcionava da seguinte forma: todas as mulheres bonitas e elegantes do bafon de Teresina eram convidadas a freqüentar o Castelo do amor. Que, naturalmente, pertencia a ele.
Rolava de tudo, menos drogas. Aliás, já naquela época usar drogas era careta! Imagine hoje... Tem nada a ver você sair por aí se envenenando, fazendo do livre arbítrio sua bíblia desventurada e, depois, mais feio do que um tropicão no alto da serra de Itacambira, ficar à mercê da ajuda alheia, sem forças nem para fazer xixi.
Era exatamente aí que estava o fio da meada, mas ela insistia em querer explicar que aquele beijo no cantinho do amor confundira seu senso comum. Senso que ela sempre confunde com razão, quando quer inverter a ordem das coisas. E não existe contravenção mais popular neste país do que o jogo do bicho. Em praticamente todas as esquinas você encontra alguém apontando milhares, centenas, passes e ternos, fora a milhar-centena da data obrigatória, mas cotada pela metade. Houvesse uma confraria dessa magnitude para defender o meio ambiente e, certamente, o Grean peace seria desse tamaninho. Nem mesmo o galo lá de casa, que cismou de cantar sem parar a partir da meia noite, mereceria tamanha atenção.
Nesse ponto da conversa, ela se vira para mim toda cheia de si e lasca um:
- Pois eu sei muito bem em que você está pensando!
Como não há resposta, lasca outro:
- Em quê não, eu sei muitíssimo bem em quem você está pensando!
É claro que continuei não entendendo bulhufas, o que não era nenhuma novidade. Novidade, mesmo, foi uma menina tão meiga, tão linda, tão dengosa e compenetrada (e põe compenetrada nisso!) aparecer grávida aos 15 anos incompletos. Logo nos dias de hoje, em que há tantos métodos anticonceptivos! Sinceramente, não sei como a população continua crescendo nesta cidade, pois evita-se tudo, sobretudo, filhos. E quando chega o período de matrícula escolar, aí é que dá uma vontade danada de continuar evitando...
Evitar, bem que eu tentei, mas a conversa já descambara para a qualidade do biscoito fofão e, aí, tenha paciência, quem é que agüenta? Preferi virar de lado...
(olhos)
- ...todas as mulheres bonitas e elegantes do bafon de Teresinha eram convidadas a freqüentar o Castelo do amor.
- Nem mesmo o galo lá de casa, que cismou de cantar sem parar a partir da meia noite, mereceria tamanha atenção.
O DIA EM QUE VERA CAIU
Por Reginauro Silva
Ontem foi comemorado o segundo ano de nascimento do meu sobrinho Júlio, por parte do pai Cláudio César, que vem a ser filho de Reginalva, minha irmã universal que hoje mora em Portugal e amanhã poderá estar nos Estados Unidos. Ou na Grécia. Rege (com e, porque com i sou eu) é primogênita de dona Laura, viúva de seu Rebeldino, e fiquemos aqui na reposição da árvore genealógica.
Nesse minimundo de Almenara de 1958, enquanto seu Rebelde bate prego no solado de mais um sapato moldado à mão e concebido com a ajuda do pé-de-ferro, dona Laura lava e passa para sustentar os quatro bruguelos que somos nós.
Nossa, é um mundão de roupas! A impressão é de que todas as famílias ricas de Vigia, atalaia avançada do Vale do Jequitinhonha, mandam suas peças. todo dia, para dona Laura lavar, esfregar e torcer no lajedo do Velho Jequi; enxugar nos varais do quintal de abóboras, mangueiras, saruês, bananeiras, privada seca e galinhas; e passar na imensa mesa do alpendre que, em meados do ano, se transforma em bancada para a confecção de bolos e biscoitos de São João.
Enxuta a roupalha, aí é que entram os pirralhos Regi, Tião, Reinaura (ou Gachinha) e este Degas aqui.
O ferro é de brasa, do tamanho de um sapato 54, a tampa tão pesada que exige o esforço de dois meninos para abrir, geralmente Rege e Tião. A brasa é produzida a partir de uma montanha de carvão que acumulamos durante a seca e que ensopa toda nas aguadas, mas aí já é outro drama...
Revezando-nos em dupla, usamos toda a força muscular para fazer subir e descer este fole enorme, que vomita ventania sobre os tocos de madeira queimada, até transformar tudo em brasa. Não vou contar a dor que sinto quando, distraído, piso num carvão em fogo desses aqui, porque seria pedir muito sua condolência. E eu não gosto que ninguém tenha dó de mim.
O certo é que, em dia de passamento de roupas como hoje, andamos à Saci, pulando com um pé só - o outro dilacerado por uma brasa -, ou assoprando as mãos por motivo idem.
É claro que, para passar a limpo todas as vestimentas de Almenara, mãe Laura não tem tempo para outra coisa, muito menos olha recém-nascida. Quando não estou no fole, minha missão é segurar Vera, a quinta herdeira da fortuna dos Silva Rodrigues de Souza Gomes, da Capitania Hereditária de Pedra Grande e Pedra Azul.
- Depois que ela mamar, suspenda com a cabeça pra cima, na altura do ombro, e espere uns quinze minutos...
Foi esta a orientação que recebi de Rege para olhar Vera sempre que ela acabava de mamar. Faço tudo direitinho, cuidadoso como sou, e só a colocarei de novo no catre quando sentir aquele azedume subir pelos ares e o grunhido da maninha zunir a orelha do pequeno babá de 8 anos que tenho neste ano de primeira Copa do mundo vencida pelo Brasil e estrelada por outro menino, só que com que o dobro da minha idade: Pelé.
Não sei se foi a sofreguidão da ferida de brasa na palma da mão ou se foi vacilo mesmo. O certo é que desci os três degraus do batente com a sensação de que estavam mais leves os retalhos de pano que eu balançava suavemente no lado esquerdo do pescoço, sobre o peito e o tórax.
Quando me viu descendo a escadinha e a pequenina Vera estirada lá no chão, atrás dos meus calcanhares, Reinaura deu um berro tão grande que fez estatelar todos os olhos que acudiram vindos de toda parte da casa. Assustado, virei-me de relance e, só então, percebi que aquele pavor era pelo fato de eu ter deixado minha irmãzinha despencar-se no chão batido, ficando só os paninhos nas mãos. E como nenhum choro, nenhum grunhido, nenhum lamento advinha daquele corpinho inerte, tremi feito vara verde (ou seria Vera verde?) ao sentir que cometera o primeiro infanticídio de minha vida.
Mas, passado meio século, Vera está sã e salva, quietinha como naquele ano de Copa. Até hoje não chora por nada deste mundo.
Graças a Deus.
DESTROÇOS DE SÃO JOÃO
Por Reginauro Silva
Tragédia como a de ontem à noite vai ser difícil acontecer de novo na minha vida. Nos meus oito anos de idade, nunca vi nada igual. Aquele sangueiro, aquela gritaria, um corre-corre sem tamanho, meninos se misturando aos adultos, o povo todo desesperado e dona Mariquinha sufocada por uma multidão de mãos, enquanto a sua própria se despedaçava no ar, todos de dedos voando feito pipoca sobre a - de repente - interrompida festa de São João.
Na minha cabeça de menino ainda não está bem clara a ordem de prevalência entre São João, São Pedro e Santo Antônio. Pela dificuldade em entender qual deles chega primeiro e qual vai embora depois, chamo tudo de São João. Dona Marli até que tentou explicar isso na escola, numa aula sobre folclore, mas nem folclore eu aprendi o que é ainda. Parece coisa de doido.
Então, chega o mês de junho, mãe e tia Dodó começam a fazer biscoitos, tia Mera manda a gente comprar folhas coloridas de celofone e cola, tio Turíbio encomenda varas de bambu a todos os donos de carros de boi de Almenara. Então, é São João. Já já vamos nos atolar em tachos de canjica, panelas de paçoca, pacotes de amendoim e muita, muita batata quente.
- Sua batata está assando...
Quando dona Laura proferia essa sentença para um de nós, era pisa na certa. Antes de ser um acepipe de São João, a batata era prenúncio da surra de palmatórias que um dos Silva levaria para saber se comportar nas festas juninas que vinham chegando. E não era para menos: nós éramos atentados demais!
Não sei bem de quem foi a ideia, mas é bem capaz que tenha sido minha. Pegamos no mangueiro de Maria Sapateiro uma cobra recém abatida debaixo de um mata-burro, colocamos num saco de estopa e escondemos atrás da privada seca lá do quintal, para deleite das moscas e dos morotós.
Achar o cordão até que não foi difícil, difícil foi amarrar o pescoço daquela cobra que, mesmo morta, continuava matando a gente de medo, pois sabíamos que o veneno continuava correndo em suas veias...
Amarramos a peçonhenta, colocamos lá no outro lado da rua e puxamos o cordão até o janelão de madeira que ornamentava a casa da Rua Belo Horizonte, bem no alto da igreja das irmãs, na subida da Hermano de Souza.
Naquela noite de São João parece que a população inteira de Vigia, antigo nome de Almenara, estava ali na casa de seu Rebeldino e dona Laura. Na casa é figura de estilo, porque, na verdade, todo mundo se acotovelava no vão na rua de pedregulho, cada um se ajeitando como podia, acocorados, assentados em um banquinho de madeira ou estirados na calçada de terra, os que já tinham se abarrotado de quentão, cinzano, topa-tudo e cachaça com mel de abelha oropa que pai preparava.
Caldeirões imensos de canjica e quentão fervilhavam no fogaréu crepitante, por baixo dos quais queimavam espigas de milho e um milhão de batatas-doce trazidas de tudo quanto é lugar. Fogos espocavam saudando São João, Santo Antônio e São Pedro – não sei bem a ordem, eu disse -, entre risos desbragados e saudações variadas, quando começamos a puxar, bem devagarinho, a cobra morta escondida no outro lado da fogueira.
Morta para nós que sabíamos da traquinagem porque, quando a bichona destampou sob o clarão dos fogos, da única luminária do passeio e das labaredas da fogueira, estava vivinha no medo, no terror e no pavor que se juntaram aos gritos lancinantes de guerra que varreram a Rua Belo Horizonte e ecoaram pelos desvãos noturnos do Vale do Jequi.
Foi um trabalhão reunir de novo os convivas ao redor do que sobrara da festa adrede preparada com tanto carinho, com tanto trabalho. O que justificava, plenamente, cada palmada aplicada nas mãos calejadas dos autores daquela brincadeira sem gosto, para não dizer perversidade sem conta. Quando, enfileirados, auto-denunciados, na costumeira pose de apanhar sem dó nem piedade, esperávamos o pior dos castigos, ecoou nos céus de Almenara uma explosão de tragédia maior que a ira dos olhos de todos os festeiros ainda esbaforidos pela pegadinha da cascavel.
Todas as atenções se voltaram para a mão direita de dona Mariquinha. Ou melhor, para o que sobrara da mão direita de dona Mariquinha, estraçalhada pela explosão dos três tiros de canhão na saída do estopim, espalhando pedaços de unhas e de dedos por todos os ares.
Enquanto, entre pasma e atônita, a plateia saía catando cotocos na vã esperança de um transplante ainda inexistente, aprendi outra palavra. É que um mais sabido virou-se explicativo para a massa aterrorizada e traduziu a causa da desgraça infinita de dona Mariquinha:
- O foguete deu xabu...
Xabu! Nunca mais ouviria esta palavra na sequência dos tempos, tanto que até hoje não sei se é com esse, com cê-agá ou com xis mesmo.
Só sei que até hoje devo aquela surra pra dona Laura...

MINHA PRIMEIRA MORTE
Por Reginauro Silva
Ontem amanheceu chovendo torrencialmente. Na verdade, não era uma chuva muito forte, mas como eu acabo de aprender esta palavra – torrencialmente -, então era esta a sensação vivida por este menino de 8 anos que sou eu. A mesma coisa quando a moça do tempo da Globo diz que a temperatura em São Joaquim está 7 graus abaixo de zero, com sensação térmica de menos 17 graus. O que explicaria a sensação de a criancinha que era eu estar com asma ou bronquite, sem estar. Pura malineza. Seria isso?
Não importa esse vai e vem do tempo, pulando da chuva torrencial de Almenara para o frio congelado do Sul do país. Relevante mesmo é dizer que tudo aconteceu por causa daquele temporal extemporâneo que mudou a paisagem da antiga Vigia do Vale desde as primeiras horas da manhã.
Na aula de Língua Pátria, dona Marli pediu para escrevermos sobre a chuva que caía lá fora, assustando aquelas pequenas criaturas do Grupo Escolar Conde D’Afonso Celso. Escrevi bonitinho, mas, dias depois, me vi diante de uma humilhante correção de texto que jamais sairia da minha cabeça. Dona Marli passara um xis vermelho de todo tamanho sobre a palavra enchorrada, escrevendo na margem do papel almaço uma enxurrada que até hoje está arquivada aqui por dentro dos miolos.
Na volta para casa, me molhei tanto que, quando passei pela casa de Tia Mera, o próprio Tio Turíbio veio me receber com uma expressão também desconhecida por mim e que se tornaria inesquecível:
- Regin está molhado como um pintinho...
Acabaria ficando ali, brincando com os primos no depósito de cereais, enquanto dona Laura, Tia Mera, Tia Dodó e outras lavadeiras dos lajedos do Rio Jequitinhonha faziam biscoitos no puxadinho de teto cheio de goteiras e piso de terra encharcado. É claro que todos os formatos daqueles biscoitos chamavam a atenção de nós, os meninos, mas nada encabulava tanto como aquele biscoitão enrolado em folha de bananeira que, depois de assado e desembrulhado, exibia uma cor tão indescritível como a aurora boreal. Tenho a impressão de que as pessoas comiam aquele biscoitão mais pela cor do que pelo sabor. Cor como aquela só veria mais ou menos assemelhada nos lábios carnudos de minha penúltima namorada.
Aquele monte de bolos e biscoitos ia sendo armazenado para a festa de São João e nós só podíamos experimentar uns poucos no café da manhã, para amolecer o gosto do beiju, este sim espalhado em fartura provinciana sobre a gigantesca mesa do quintal.
De novo em casa, alojamo-nos na enorme varanda da Rua Hermano de Souza, para a tarefa diária de fazer caixas de sapato para seu Quias, o homem da sapataria onde pai trabalhava. Vou tentar relembrar a posição em que nos encontrávamos: Seu Rebeldino de costas para a rua, cortando o papelão com uma faca tão afiada que deixava marcas em tantos quanto a manuseavam (quando não aleijados...). Do seu lado direito, dona Laura mexia a cola e a distribuía em potinhos para Rege, Tião, Reinaura e eu, que Sueli, Vera, Toquinho e Raquel ainda não eram nascidas. Nós quatro, emboladinhos por causa da tal sensação térmica e do vento daquela chuva torrencial lá do início, tremíamos feito vara verde a cada um dos milhões de trovões que estrondavam no céu escuro do Vale do Jequitinhonha.
Iluminando aquele salão de chão batido sem luz elétrica, um candeeiro dito fifó, com um alaranjado pavio alimentado a querosene. Não sei se nos incomodava mais a fumaça do pavio ou o cheiro do querosene. Mentira! Nós já nos acostumáramos tanto àquele aroma enegrecido que até dava vontade de lamber o candeeiro de vidro. Como lambíamos, de quando em vez, pra ninguém ver.
Foi tudo muito rápido. Coisa de um milionésimo de milésimo de segundo. Um clarão enorme que jamais veria em qualquer outro lugar do mundo cegou todo mundo e... uma explosão medonha parece que balançou as paredes de adobe e enchimento, rasgando o corredor e jogando longe a porta da cozinha.
Medo total. Todo mundo mudo. Olhos esbugalhados. Suor frio, cena congelada. Tic... tic... tac... o barulho assustado da chuva . O coração batendo acelerado por dentro. Quase saindo do peito.
O raio passou por todos nós e foi abrir uma cratera no meio do chiqueiro, estraçalhando todos os porcos e indo parar lá no Japão.
Foi a primeira vez que morri de verdade.

FOI A GROSELHA...
Por Reginauro Silva
Ontem aconteceu uma tragédia que eu jamais imaginaria que seria superada. E será, ao longo desta narrativa. Chovera o dia todo em Almenara, com o Rio Jequitinhonha ameaçando invadir outra vez nossa casinha de quatro cômodos e oito pessoas, na Rua Hermano de Souza. Meu único par de sapatos Vulcabras ficou todo ensopado, o que valeu uma surra com doze escovadas em cada mão e umas lambadas de marmelo nas costas. Coisa pouca, que o lombo e as palmas já estavam acostumados com esses ensinamentos domésticos.
Minha mãe, dona Santa Laura, findo o corriqueiro castigo, colocou os sapatos para secar por sobre a chapa do fogão de lenha e foi ver se achava uns cobertores na casa de Dr. Hélio, pois o frio era iminente. Quando voltou, um dos sapatos tinha caído dentro do borralho e estava todo estorricado. Não sei por que, mas levei outra surra. Fui dormir com o rabo quente. E mais sabido.
Como não poderia faltar à aula de jeito algum, pois era Dia das crianças e haveria uma festa com muitas guloseimas e suco de groselha, amarrei um pano velho no pé esquerdo e calcei o pé de sapato que se salvara do incêndio pós-tempestade. Claro, era proibido entrar no Grupo Escolar Conde D’Afonso Celso descalço, e muito menos com chinelo de dedo.
Dona Laura se orgulhou de ter um filho tão inteligente e até sugeriu que eu fosse mancando de uma não ocorrida contusão provocada pela perseguição às galinhas do quintal entulhado de lama de porco e fezes variadas, inclusive as nossas. Só não tinha gripe suína.
Depois de muitos coitadinhos pelo caminho, entrei na fila da escola, rezei o Pai Nosso e a Ave Maria com a turma e me postei na primeira fila do pátio, onde se concentrava a comemoração.
Perdi a corrida do ovo na colher, mas ganhei a do saco, pois podia correr normalmente, sem ninguém perceber o machucado de mentirinha. O prêmio foi uma montanha de salgados, doces e uns copões de alumínio cheios de k-suco pelando de quente, numa quantidade tamanha de enorme (na visão do menino esquálido), que nem sei como coube na pança.
Encerrada a primeira parte do Dia das crianças, fomos chamados para copiar o dever de casa do dia seguinte, que voltaria à normalidade. Foi aí que adveio uma dor de barriga tão intensa, dona Magela, que as tripas se retorciam, o suor descia pela testa, as mãos se fizeram geladas e os pés parece que adormeceram. Quase sem voz, sussurrei lá do meio da sala:
- Dona Marli, dona Marli.
- O que é, Reginauro?
- Eu posso ir lá na casinha?
- Não, copie primeiro o dever de casa.
- Mas...
- Silêncio! Fique quieto aí, Reginauro! Atenção! Escrever 100 vezes: “Qual é o sujeito pretérito da frase...”
- Dona Marli, posso ir...
- Não!
Insisti mais umas três ou quatro vezes.
- Não! Já disse: Não!
O estômago embrulhou-se por dentro, uma avalanche precipitou-se rumo ao chão, o esfíncter parece que se soltou feito carnegão vindo a furo, as vísceras latejaram que nem gato engasgado. Prendi a respiração, suspirei sofregamente, engoli em seco.
- Dona Mar...
Nem deu tempo de ouvir outro não. Um alívio fofo prenunciou a borralheira que se fez vapor e impregnou todos os milésimos de milímetro de cada poro da sala, até sopitar pelo teto e varrer o chão. Um murmúrio de nojo transmudou a fisionomia de todos os colegas, tanto fedor que acabou convencendo dona Marli.
- Pode ir, Reginauro Silva!
Era tarde.
Com a calça curta breada por dentro, a lavagem já descendo pelas pernas, saí a galope, ganhando os corredores, o pátio, os fundos da escola, a cerca de arame farpado que me deixou uma cicatriz no lado direito do rosto até hoje visível. Só quando alcancei a manga de Maria Sapateiro é que me senti livre de tanta vergonha e da censura pública. Parei de correr para tomar fôlego. E procurar o rumo de casa.
Rodeei a cidade inteira, passando por mangas e capões, veredas e pedregulhos, até chegar em casa, já de noitinha, todo fedido.
E levar outra surra, desta vez aplicada por Seu Rebeldino, fã número 1 do pai de Michael Jackson.

ENTERRANDO MEUS IRMÃOZINHOS
Por Reginauro Silva
Ontem, a história voltou a se repetir em Almenara, onde os pássaros piam mais sofregamente e as águas passam mais devagar por sobre as pedras multiformes do Rio Jequitinhonha. Desta vez apareceram mais meninos e meninas, todos muito bem desarrumadinhos, as roupinhas puídas, porém, bem passadas e algumas, até, engomadas. Em design, só não superavam a vestimenta recém-costurada para o bebê que dona Laura acabara de ganhar. E perder.
Já nos acostumados a esse ritual. Todo ano, pintou o mês de agosto, aproximou-se setembro, encerrado o ciclo do pequi, mais uma criancinha pra gente enterrar, que na nossa idade ainda não inventaram esse negócio de nascituro, natimorto, prematuro... É criancinha mesmo! Que eu me lembre, levamos umas oito (mãe já teve 16) pro cemitério particular que construímos junto ao Lajedo das Lavadeiras. Um cemitério de areia, como os castelos de infância, só para nossos irmãozinhos. E que a correnteza do Jequitinhonha carrega todo janeiro, e nós voltamos a cavar na passagem do dia dos pais. Já esperando o próximo freguesinho. Ou freguesinha. De seus seis, sete, às vezes até nove meses.
Passado o mal de sete dias, Reginalva, a primogênita, traz a notícia:
- Nosso irmãozinho (ou irmãzinha) morreu de novo...
Quer dizer, não é de novo, porque todo ano vem um diferente, mas na nossa cabecinha é mais um que seria se não tivesse deixado de ser. E lá vamos nós juntar a molecada no largo da igreja, todo mundo de olhos esbugalhados e curiosidade acesa, querendo saber como foi.
- Ora, como foi, é igualzinho aos anteriores: mãe começou a gemer, gemeu mais alto, mais alto e mais alto, sabe como é? Bem alto mesmo! Aí, dona Izidora, a parteira, foi chamada às pressas por nosso pai Rebeldino, chegou espavorida, Regi botou a água pra ferver, ela juntou um punhado de folhas de mamona, matruz, erva doce, cansanção, sei lá-o-quê mais, eu, Tião e Reinaura levamos a baciona de água fervendo pro quarto, cabeças abaixadas pra não ver a cena só entreolhada de mãe de pernas abertas cobertas por uma coberta branca (tomando fôlego...), saímos correndo pro quintal, um grito rouco e prolongado ecoou em direção ao infinito, dona Izidora gritou nasceu, pai puxou longas baforadas no cigarro de palha, mais abobalhado do que nervoso, e nós? Hein, e nós? Nós não sabíamos se chorávamos ou se sorríamos (mais fôlego...), um olhando pro outro desconfiado, ouvidos atentos à algazarra vinda do quarto, aguardando a sentença da parteira. Que não demorou muito:
- Morreu!
A caixa de sapatos já estava preparada, toda enfeitada por tiras coloridas de papel crepom. Dentro, um minúsculo travesseiro de boneca da futura Vera e a dita cuja roupinha costurada na véspera por dona Laura, no seu imorredouro sonho de ter um bebê de fato, sobrevivente como nós outros que estamos aqui para contar o causo, enchentes, impaludismos, cataporas e desnutrições depois.
O velório se formava numa velocidade extrema. Os meninos apareciam que nem formigas em açúcar derramado no chão da cozinha lá de casa. Um tanto. Mais que um tanto, um monte. Vinham meninos de todas as cores, de todas as raças, de todos os cantos da cidade. E uns varapaus de calça curta. A sentinela prosseguia até o cair do sol, quando reiniciávamos o féretro rumo ao Lajedo das Lavadeiras. Cada um levando sua vela, cuja chama lutava bravamente contra a ventania beira-rio.
Um imenso buraco era aberto pela maior de todos, onde depositávamos a caixinha de sapato com seu anjinho pagão de cabelos ralinhos. Todos tinham o direito de jogar um punhado de areia por sobre a tampa e, depois, era só amontoar as flores do cerrado, ramos e similares colhidos no cortejo e nas barrancas do Jequi.
Tristes, muito tristes, os sobreviventes se espalhavam, quase choramingando, cada qual contando no bolso suas bolinhas de gude...


POETANDO SENTIMENTO
Por Laura Walma
Cheguei com medo
alma machucada.
Sem perceber ao teu amor fui me entregando.
Completamente cega
Sucumbi ao teu encanto.

Vi-me te amando
e sendo tua para sempre.
Ardentes, loucos, ternos
foram tantos os momentos,
a paixão queimando
o coração, o pensamento.

Amar-te tanto fez-me tua escrava.
De tanto amor de mim fui me perdendo.
E me achei sozinha.
O amor tinha partido.
...
PARA O MEU BALÃO...
Por Laura Walma

Se eu soubesse que te amar
fosse doer tanto,
Teria permanecido no vazio de ser só.
Não teria me deitado em tua cama
nem adormecido tantas vezes em teus braços.

Que amor é esse
que me leva à loucura,
ensurdece o coração
que só consegue ouvir o vento?
Esse vento que te traz,
esse mesmo vento que de mim
te leva.
Que transtorna o pensamento
e me arrasta,
depois abranda a minha dor
com a brisa da tua presença.

Beijo-o com amor.


FELIZ ANO VELHO! FELIZ ANO NOVO?
Por Juliana Santos e Silva, minha filhinha querida
...
Estranho como neste fim de ano demorei a me lembrar de como tinha sido o reveillon do ano passado... Após um esforço danado me lembrei de como estava feliz pela presença aconchegante da minha família que tanto amo. Lembrei-me, também, de uma tristeza íntima que teima em não me largar, apesar de todo o meu esforço para me conhecer melhor.
Então, comecei a fazer uma retrospectiva e me lembrei não somente da virada, mas de todas as reviravoltas ocorridas nesse longo ano que se foi.
Em 2010 comecei minha segunda faculdade, a de Medicina, na verdade o curso da minha vida. Minha turma 10! E se não fosse apenas isso... fiz amigos que, sei, serão para a vida toda.
Foi nesse ano abençoado que vi minha sobrinha e afilhada crescer mais linda a cada dia. Cada gesto, cada palavra, cada sorriso era um passinho indicador de que a vida merece atenção em cada pequeno detalhe divino e que é deliciosa! Com ela pude resgatar a criança simples, alegre e livre que mora dentro de cada um de nós.
Percebi que Deus tenta sempre nos transmitir seu amor através de cada ser humano que Ele coloca em nosso caminho, e que cabe a nós saber reconhecer isto.
Em 2010 nos mudamos para uma casa maior, mais bonita, cheia de novidades , de amor e... nossa!
Enfim, foi um ano cheio de encontros e com alguns desencontros... Me apaixonei com a mesma velocidade com que deixei de amar, apesar de reconhecer que algumas pessoas são especiais e nos marcam para sempre!
Para fechar o ano, ajudei sim a eleger a primeira presidente(A) do Brasil! Porque sou uma amante da democracia, das liberdades individuais, dos direitos humanos, da educação, da saúde e do desenvolvimento econômico sustentável. E, principalmente, porque acredito na firmeza, coragem, na ação transformadora , no carinho e na valorização da mulher.
No final lembro que foi uma dura caminhada, mas só tenho a agradecer a todos, sem exceção, que fizeram parte da minha vida e que me fazem ter coragem para enfrentar desafios ainda maiores... que certamente virão.
Obrigada, 2010!
Querido 2011, que seja bem vindo!
PRODUÇÃO LITERÁRIA
Por Petrônio Braz, escritor e presidente da ACLECIA...
REGINAURO SILVA
Fernando Pessoa em Portugal entre Passado e Futuro questiona: Que pensa dos nossos escritores do momento, prosadores, poetas e dramaturgos? E ele completa o questionamento: Citar é ser injusto. Enumerar é esquecer. Não quero esquecer ninguém de quem me não lembre. Confio ao silêncio a injustiça. A ânsia de ser completo leva ao desespero de o não poder ser. Não citarei ninguém. Julgue-se citado quem se julgue com direito a sê-lo. Ressalvo assim todos. Lavo as mãos, como Pilatos; lavo-as, porém, inutilmente porque é sempre inutilmente que se faz um gesto simplificador. Que sei eu do presente, salvo que ele é já o futuro? Quem são os meus contemporâneos? Só o futuro o poderá dizer. Coexiste comigo muita gente que vive comigo apenas porque dura comigo. Esses são apenas os meus conterrâneos no tempo; e eu não quero ser bairrista em matéria de imortalidade. Na dúvida, repito, não citarei ninguém.
Não sei se deixarei alguém sair da memória no curso dessa série, é possível, mas mesmo correndo o risco de ser injusto não citando alguns, o meu desejo é não esquecer ninguém, de quem venha a me lembrar ou possa ser lembrado.
Com realce especial, hoje, para o advogado e jornalista Reginauro Silva, natural de Almenara/MG e domiciliado em Montes Claros, que a cidade e o Norte de Minas conhecem e aplaudem.
Reginauro Rodrigues da Silva, Honra ao Mérito outorgado pela Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, é graduado em Direito pela Faculdade de Direito do Norte de Minas (Unimontes), pós-graduado em Pesquisa de Marketing, jornalista profissional e autor teatral. Ele especializou-se em Comunicação Humana pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Montes Claros) e em Arte Cinematográfica. Possui cursos de extensão universitária em Dinâmica de Grupo, Folclore, Parapsicologia e Inglês e Teatro.
Pela sua dinâmica criadora, principalmente como jornalista e teatrólogo foi Destaque em Comunicação - Colégio Agrícola da UFMG – 1973, Melhor Redator-chefe do Interior - “Jornal de Minas”/Cecília Silva – 1977, Sócio Benemérito da Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas – 1980, Melhor Texto Teatral nos anos 80/81 (“A formiga que queria ser cidade e virou princesa”) - União dos Artistas Independentes de Montes Claros – 1981, Melhor peça em circuito nacional (“Seu Marido Sabe Que Você Tem Outro Homem?” ) - Grupo Uai - Montes Claros – 1982, Cidadão da Cultura Popular - Ordem Brasileira dos Poetas de Literatura de Cordel - Salvador – 1982, Personalidade do Ano no setor de Arte e Cultura - Jornal do Norte – 1982, Melhor Autor de Teatro do Norte de Minas (“Prensa” e “Cenas Maravilhosas Deste Século Maluco”) - Grupo Montesclareô – 1987, Destaque do Ano em Assessoria de Imprensa - Jornal Edição do Brasil - Belo Horizonte – 1989 e Melhor Texto e Direção (“Como fazer amor em família”) - Prêmio Sol - Montes Claros – 1996.
O jornalista todo mundo conhece, mas ele é também autor, diretor e produtor das peças teatrais, com destaque para: “Seu Marido Sabe Que Você Tem Outro Homem?” (cartaz nacional com o ator Jackson Antunes, seu primeiro trabalho em teatro antes de ir para a Globo), “Explosão do Silêncio”, “Um Monstro Chamado Eu”, “Quem Somos Nós”, “Como fazer amor em família”, “A formiga que queria ser cidade e virou princesa”, “Prensa”, “Cenas Maravilhosas Deste Século Maluco”, “Gaiola dos Imortais”, “A Primeira República da Nova Comédia”, “Novela sem vela é nó...” (vídeo-peça, inédita), “A noite em que as mulheres disseram não”, “O dia em que passaram a rasteira em Bom Jesus” e “A volta Cristo e a salvação da humanidade através da música”.
Atuou durante 14 anos como correspondente de “O Globo” no Norte de Minas, foi repótrer e editor dos jornais “Diário de Montes Claros”, “Jornal do Norte de Minas”, repórter do “Diário de Minas”, em Belo Horizonte, repórter e Editor de Polícia do “Hoje em Dia”, também em Belo Horizonte. Free-lancer de várias publicações, com destaque para a revista Veja, O Indicador Rural, Agência Efe (revista “A Semana”, de Madrid), e outras.
Entre inúmeras outras atividades, ele foi Assessor de Imprensa da Secretaria Municipal de Esportes e do Gabinete do Vereador Eduardo Lima em Belo Horizonte, Assessor de Imprensa do Sindicato do Comércio de Montes Claros, Fundador e Diretor Superintendente do Jornal do Norte de Minas, Fundador da Revista Tempo de Montes Claros, Chefe da Sucursal Vitória da Conquista (BA) do jornal Tribuna do Sertão e Assessor de Imprensa e Relações Públicas da Prefeitura de Guanambi/BA. Criador/fundador dos jornais Opinião e O Norte de Minas e do blog eletrônico A Província.

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