domingo, março 27, 2011

NORTE DE MINAS SERÁ UM DESERTO DAQUI A VINTE ANOS

Um terço do território mineiro corre o risco de virar deserto se nada for feito para combater a degradação do solo. A ameaça, que pode se concretizar em 20 anos, recai sobre 142 municípios que ocupam 177 mil quilômetros quadrados na Região Norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, onde predominam os climas semiárido e subúmido seco e de entorno.
As áreas, de baixa precipitação pluviométrica, já são suscetíveis à desertificação, que torna inviável o uso delas para fins econômicos e sociais. Para piorar, o processo é acelerado pela ação do homem, como indica o Plano de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca em Minas Gerais (PAE/MG). O estudo foi elaborado pelo Governo do Estado, conforme exigência do Ministério do Meio Ambiente.
Atividades intensas de agricultura e pecuária, desmatamento indiscriminado, irrigação mal planejada e cultivo de monoculturas em ecossistemas frágeis, de baixa capacidade de regeneração, levam à perda da capacidade produtiva do solo e da biodiversidade. De acordo com o engenheiro agrônomo Djalma Marcelino Duarte, os municípios de Francisco Sá, Verdelândia, Monte Azul, Mato Verde, Espinosa e Pedra Azul, no Norte do Estado, além de Santo Antônio do Jacinto e Rubim, no Jequitinhonha, já se encontram em processo de desertificação.
Djalma explica que estas regiões, onde se encontram os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, apresentam distribuição irregular de chuva. Desta forma, sofrem com o prolongado e rigoroso período de seca, agravado por altas temperaturas. O solo, frágil, ainda é danificado por atividades agropecuárias insustentáveis, queimadas e uso de agrotóxicos.
Com o passar dos anos, a terra fica sem nutrientes, impossibilitando o crescimento de qualquer tipo de vegetação - florestas naturais ou plantações feitas pelo homem. Somado a isso, o desmatamento contribui para deixar o solo liso. Sem a cobertura vegetal, que serve para amortecer as gotas de chuva, a água carrega a terra, abrindo sulcos no terreno.
"O uso irregular começa, principalmente, a partir dos anos 1970, com a introdução de tratores. Isso contribuiu para o agravamento da situação nestes municípios", diz o engenheiro agrônomo.
Além da questão ambiental, a perda da capacidade produtiva influencia no desenvolvimento econômico e social destas regiões. "Sem terra para cultivar, famílias precisam se deslocar para outras regiões", explica.
No Brasil, o fenômeno da desertificação acontece em todo o Nordeste do país, no Norte de Minas e do Espírito Santo. Desde 2003, ações do Ministério do Meio Ambiente tentam conter o processo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) define desertificação como danos em áreas de clima semiárido, árido e subúmido seco. As terras perdem o potencial produtivo devido a variações climáticas, como o aquecimento global, à escassez de chuvas e a atividades humanas degradantes, com impactos ambientais, sociais e econômicos.
Em Minas, 2,2 milhões de habitantes, ou 20% da população do Estado, vivem nas Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASDs). A atividade econômica que predomina nestas regiões vai do extrativismo vegetal à agropecuária empresarial.
A falta de chuva e a perda de espaço fértil devido à degradação do solo já apresentam, em algumas cidades, limitações para as atividades agrícolas. Em um futuro próximo, podem gerar graves problemas socioeconômicos. (Thiago Lemos e Ana Lúcia Gonçalves)

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