LEITOR REAGE A PROVOCAÇÃO DA RESENHA DO RÊ

Montes Claros 17 de setembro de 2007
Caro Reginauro Silva,
Surpreendeu-me a sua avaliação subjetiva da Parada Gay, digna da Coluna do Karoba. Posso apontar inúmeras falhas na organização do evento mas devo admitir que os responsáveis souberam divulgá-lo, em outdoors, na TV, no rádio, pelos jornais e por panfletos. A prova disso é o número recorde de pessoas presentes aos debates promovidos durante a semana (média de 100 participantes por noite) e na parada (9.000 pessoas segundo a polícia militar no começo dos espetáculos da noite). A julgar pela presença de pessoas de todas as idades e orientações sexuais o evento foi um sucesso.
Dentro do movimento homossexual as lésbicas são conhecidas pela sua relutância em aparecer em público, talvez por isso ou por motivos pessoais diversos, algumas tenham preferido outros locais. Mas posso lhe garantir que um número significativo de lésbicas compareceu.
“Parada Gay em baixa”??? A primeira parada reuniu cerca de 500 pessoas no quarteirão do povo, a segunda 2.000 na rua do Durães, a terceira 5.000 pessoas e este ano quase 10.000 pessoas. Você acha pouco para um movimento social com quatro anos de história na nossa cidade? Que outro movimento social consegue reunir tantas pessoas? Este é definitivamente um movimento em ascensão.
“GBLTSPHMIJWs”??? A sigla correta é GLBTTTS (gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e simpatizantes). “Sapos, sapas e sapatinhos”??? Estes termos estão erroneamente usados e inadequados para tratar da luta de um movimento social pela aceitação, pelo fim da intolerância e da discriminação, seriam inadequados mesmo em uma página de humor (negro).
A população carece de informação precisa e politicamente correta sobre um assunto tratado com tão pouca seriedade na mídia. Nós, profissionais da informação, temos a obrigação moral e profissional de instruir e educar nossos ouvintes, leitores e telespectadores. Caso consideremos o assunto desinteressante melhor seria respeitar e não abordá-lo de maneira alguma, se o abordamos que o façamos de forma responsável.
Quantos homossexuais são vítimas de violência e mortos? Quantos jovens homossexuais são estigmatizados pelos colegas e até expulsos de casa? Quantos direitos nos são negados? Só estes já são motivos suficientes para merecer dos comunicadores sociais um tratamento digno ao invés de piadinhas de gosto duvidoso e com tom de deboche.
Militante gay desde 1995 atuei nos movimentos homossexuais de Florianópolis e Moc. Participei de paradas no Rio de Janeiro e em BH. Por três anos pesquisei a homossexualidade custeado pelo CNPq e me julgo um conhecedor do assunto, na teoria e na prática.
Nesta pesquisa me debrucei sobre o problema do preconceito e como combatê-lo. Acredito que a mídia tem um papel importantíssimo nesta luta e pode ajudar quando o assunto é abordado por profissionais informados e interessados. Constato que o preconceito impregna nosso discurso e para combatê-lo é importante cuidar do tratamento dado ao assunto e com as palavras usadas.
O Brasil é um dos países mais tolerantes em relação à homossexualidade, mas nossa legislação ainda nos condena a sermos cidadãos de segunda categoria por não reconhecer muitos dos nossos direitos civis. O auxílio dos profissionais da comunicação é imprescindível para sensibilizar a opinião pública e os políticos para que possamos mudar esta situação. Contamos com você!
Sinceramente,
Cláudio Narciso
Professor, jornalista (MG062558JP) e conselheiro fiscal do MGG - Movimento Gay dos Gerais
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P.S. Coloco-me a sua disposição para qualquer informação e aproveito para convidá-lo a participar de uma reunião do MGG.