sábado, abril 26, 2008

CASO ISABELLA: PAI E MADRASTA SURPREENDIDOS PELA POLÍCIA

O repórter César Tralli, da TV Globo, conseguiu com exclusividade as transcrições do segundo depoimento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella. Nelas, há detalhes da investigação que a polícia manteve em sigilo até hoje. E que surpreenderam o casal na delegacia.
Com os depoimentos em mãos, é possível entender como a polícia conduziu os interrogatórios, no dia 18, que terminaram no indiciamento de Alexandre e Anna Carolina.
O pai de Isabella foi o primeiro a ser interrogado. Foram sete horas e meia de declarações, registradas em 19 páginas. O interrogatório começou num tom leve, em que ele fala sobre o comportamento de Isabella. Seguiu com declarações sobre o relacionamento dele com a madrasta da menina. Nessa parte, Alexandre passou a idéia de um casal comum, com brigas e ciúmes típicos de um relacionamento normal. Ele também repetiu a versão dada no dia do crime. Foi quando o depoimento tomou outro rumo: os delegados apresentaram provas técnicas que, segundo a polícia, indicam que ele e a mulher mataram Isabella.
Uma das provas mais importantes era a camiseta que Alexandre usava naquele dia. Nela, peritos encontraram vômito da menina. Ao ser informado sobre a constatação de vômito, ele não soube explicar como isso aconteceu. Alexandre disse que, em momento algum, viu a filha vomitando em vida. Ele soube, então, que o vômito ocorreu após ela ter sofrido asfixia, mediante esganadura, como uma reação do organismo. Voltou a dizer que não sabia como explicar.

Sangue
Sobre a existência de sangue, comprovadamente sendo de sua filha, dentro de seu carro, usado momentos antes da morte, Alexandre declarou que a criança foi levada no colo por ele até o quarto, sem apresentar qualquer ferimento. E não explicou como o sangue do ferimento da testa de sua filha aparece no carro.
O interrogatório seguiu e Alexandre declarou que, ao entrar no apartamento, viu apenas uma gota de sangue no quarto dos meninos, outra sobre o lençol da cama deles e um pouco de sangue na tela.
Informado que os peritos encontraram, com a ajuda de um reagente químico, sangue no chão da sala, do lado direito do sofá - sangue este que foi limpado -, Alexandre responde que não viu esse sangue e não limpou nada. Ele deduziu que a única pessoa que possa ter limpado esse sangue é a mesma que afirma ter entrado em seu apartamento e jogado sua filha.
Quando soube, em seguida, da constatação de uma gota do sangue de Isabella sobre o pé direito do sapato de sua esposa, também não deu qualquer explicação. A respeito da pegada do chinelo dele no lençol, no quarto de onde Isabella foi jogada, deu a seguinte explicação: “que não tem o hábito de pisar na cama com o calçado que acabou de vir da rua, mas que fez isso apenas para alcançar a janela e fechá-la”. Durante o depoimento, os delegados disseram ao pai de Isabella que um laudo da perícia constatou que as marcas da tela de proteção do quarto onde ela foi jogada ficaram impregnadas na camiseta dele. Ele não esclareceu à polícia como isso poderia ter acontecido.




19 minutos
No novo interrogatório, ele contou que ficou 19 minutos na garagem, depois de levar a filha para o apartamento. Esse intervalo é quase cinco vezes maior do que ele havia declarado no primeiro depoimento. Mas a policia já sabia: o rastreador do carro da família informou a hora exata em que o motor foi desligado na garagem. Entre esse momento e a primeira ligação para o resgate, 13 minutos tinham se passado. Alexandre então admite a possibilidade de ter transcorrido cerca de 13 minutos entre sua chegada à garagem do prédio e a queda de sua filha. E, que no intervalo em que esteve na garagem, uma terceira pessoa tenha entrado em seu apartamento, sem arrombar a porta, usando a cópia de uma chave. Essa mesma pessoa, para ele, feriu sua filha na testa, asfixiou a criança, cortou a tela de proteção, tendo antes que abrir a janela do quarto, limpou o sangue, recolheu os instrumentos usados para cortar a tela, saiu do apartamento e trancou a porta.
Já no final do depoimento, Alexandre declarou que em momento algum ligou para o Resgate ou para uma ambulância, porque tem o hábito familiar de sempre ligar para o seu pai, quando acontece alguma coisa.

Anna Carolina
Ao ser ouvida, Anna Carolina Jatobá acrescentou que ela e o marido estavam cada um com seu celular, mas ela preferiu usar o telefone fixo para avisar o pai dela e, depois, o sogro. Afirmou que não ligou para o Resgate diante da queda porque os dois têm o hábito de comunicar as famílias antes de qualquer outra providência.
O depoimento de Anna Carolina durou 5 horas e 20 minutos. E tem 13 páginas, em que se ela se define como uma “mulher ciumenta, insegura, que briga e fala palavrões”, embora diga que tenha se tornado mais madura depois do nascimento dos filhos.
Anna Carolina declarou que a menina não se feriu dentro do carro e que não viu Isabella machucada antes da queda. Informada sobre a descoberta de sangue dentro do carro, a madrasta disse que não sabe explicar como ele foi encontrado pelos peritos.

Sapato
Informada também sobre a constatação de sangue de Isabella sobre o pé direito de sua sapatilha, esclarece que, em "hipótese alguma, os peritos criminais poderiam ter constatado sangue sobre seu calçado". Ela afirma que chegou ao apartamento usando um tamanco e que deixou o calçado na cozinha, tendo depois saído do apartamento descalça. Ela conta que foi assim para Guarulhos, onde fica o apartamento dos pais dela. Ainda segundo a madrasta, o sapato apreendido estava no apartamento dos seus pais e fazia anos que ela não usava. E repetiu: não sabia explicar como o sangue pingou sobre um dos seus calçados. E também declarou que não viu em momento algum a garota vomitar durante o trajeto que a família fez entre Guarulhos e São Paulo. Quando a polícia disse a ela que os peritos acharam vômito da criança na camiseta do marido, ela respondeu que não sabia como isso poderia ter acontecido. A madrasta também afirmou que não limpou manchas de sangue no apartamento antes de descer. E que em momento algum apertou com a mão o pescoço de Isabella. Ela reafirmou que nunca encostou um dedo na garota, mesmo porque, quando subiu, tudo já havia acontecido.
Para a Promotoria, todas as negativas do casal no depoimento foram combinadas e fazem parte da estratégia da defesa. O advogado do casal, Marco Polo Levorin, disse na tarde desta sexta-feira (25) que não daria declarações sobre o caso, porque estava analisando os laudos. Nesta noite, a reportagem do Jornal Ncional também procurou os outros dois advogados que fazem parte da equipe, mas eles não foram encontrados.

0 comentários: