terça-feira, setembro 30, 2008

EU, O POVO E MINHAS 25 RAZÕES

1. Levantar-se de manhãzinha, pegar a avenida principal de Cooper e cuspir ante um cheiro nauseabundo no ar. Visitar um parente no bairro distante e entremear-se entre vidas humilhadas, rostos carcomidos, corações estraçalhados;
2 . Ir ali mesmo à padaria da esquina comprar uma caixinha de leite para o gato e testemunhar pessoas armadas até os dentes exibindo drogas em uma mão e ouro na outra. Entrar no ônibus-lotação e se sentir na mais dramática tragédia dos filhos sem pai correndo em busca do nada;
3. Contemplar o quadro verde na sala de aula e um alquebrado e retrógrado e mal recompensado professor do nada fingindo que educa;
4. Certificar-se que o mais honesto dos governantes deste chão foi o primeiro a roubar a esperança, matar expectativas e enganar seu próprio irmão;
5. Compadecer-se da subserviência daqueles que deveriam estar dignificando o poder legislativo e, no entanto, se venderam por alguns dinheiros;
6. Não entender o que deu na cabeça daquele jovem que leiloou todos os projetos de crescimento do ser humano, jogando lama sobre seus companheiros de jornada;
7. Procurar e não encontrar entre os outrora freqüentadores do coreto aqueles idealistas que cultuavam o amor e sensibilizavam os amantes da arte e da cultura;
8. Não mais enxergar em qualquer ponto desta terra um vestígio sequer da alegria festiva do nosso concidadão e da espontaneidade brejeira da nossa gente;
9. Condoer-se cotidianamente com as dores espalhadas nos corredores de salões feitos para sarar o sofrimento alheio;
10. Dividir com a mãe aflita o desespero do filho em busca de um emprego assalariado que seja para pelo menos comprar o vale-transporte;
11. Desencantar-se com falsas promessas e idéias atabalhoadas de um cidadão que se proclamou salvador da comunidade;
12. Ver minha amada e adorada viela, que haveria de ser cravada de diamantes, invadida pelo farfalhar nojento de ratazanas, moscas, baratas e outros podres;
13. Entrar no prédio público e encarar o desânimo do barnabé, a insensibilidade de quem estaria ali apenas para servir a outra mão companheira;
14. Não poder dividir com a menina de chita linda que olha o horizonte a alegria de se comprazer com seu sorriso de todos os dentes;
15. Olhar uma amarelada fotografia analógica e chorar de pena do goleiro que já não há mais, do estádio que morreu;
16. Escorregar-se para não se transformar em vítima incauta do telhado ameaçando cair no barraco da favela;
17. Ter pena e dó do trabalhador que olha uma folha escrita de cabeça para baixo e se envergonha da própria vergonha;
18. Comprar meio quilo de carne moída e se sentir rei dos que nem isso podem;
19. Ver não muito raramente aquela porqueirinha de chinelos de dedo oferecer o próprio corpo em troca de uma sacanagem qualquer;
20. Recusar uma proposta para que troque o salário alheio do mês subseqüente pelo pagamento de um botijão de gás;
21. Adentrar a igreja e se negar a confessar não por estar de frente de um pastor de ovelhas, mas de um agiota da alma, um prostituto da fé;
22. Conviver diariamente com injustos no poder, injustos nas tribunas, injustos nos gabinetes, injustos em tudo que diga respeito à liberdade de expressão e de comunicação;
23. Sentir esvaecer-se o último milímetro do último centésimo de esperança que poderia alimentar o vizinho aqui do lado.
24. Ouvir atentamente o que diz o filho amado e apostar com ele que seu futuro será muito melhor;
25. Concordar que o mundo é bom, que a sociedade é boa, que tudo vai melhorar e que todos os sonhos serão realizados a partir de nós mesmos.
São estas, Júnior, as 25 razões para votar em Ruy.

1 comentários:

Anônimo disse...

Regi,
Ainda que possamos ter candidatos distintos, a indignação é a mesma, mas a esperança jamais deixará de fazer morada em nossos corações. Corações sertanejos, puros que viveram outros tempos. Tempos duros é verdade, mas belos, porque alicerçados em ideais de justiça, solidariedade e paz. Em que momento será que elas se distanciaram de tantos que nos rodeiam? Ou será que não estamos conseguindo transpor a distância do que mora em nossos corações com a realidade que nos abraça? Ainda haveremos de ver coisas e dias melhores.
Maria Esperança