Flávio Augusto Guimarães
31 anos, 14 de profissão:
- Nestes dois quiosques, eu e outros 13 engraxates trabalhamos por conta própria. Para a gente não ficar espalhado como o pessoal da Praça da Sé, em 1986 a Bovespa criou este espaço. Ela não cobra nada. Tudo o que consigo ganhar é meu. Cobro R$ 5 para dar um trato nos sapatos. Demoro de 10 a 15 minutos. No horário de almoço, entre meio-dia e 3h da tarde, é aquela correria!
As pessoas reparam muito nos pés dos outros... Dá até para saber se o cliente é patrão ou funcionário pelo sapato. Imagina alguém com uma roupa cara e bonita, mas de sapato sujo! Fica feio, causa um transtorno, não é? E, se você for procurar emprego, te olham dos pés à cabeça na entrevista. Se o calçado não estiver lustrado, brilhando, isso reflete muito da sua personalidade, parece que você é relaxado, não é vaidoso. Engraxar é uma coisa simples que faz toda diferença!
A maioria dos meus clientes trabalha nos bancos aqui do Centro. Outros vêm investir na Bolsa de Valores e dão uma passada para engraxar. Daí eles comentam com a gente sobre a crise financeira. Nossa, estão bem mais nervosos... Contam que a coisa está complicada, que o dia-a-dia está estressante demais. Além disso, quem deixava R$ 5 de gorjeta agora está dando só R$ 2.
A verdade é que o que acontece nos Estados Unidos afeta o mundo inteiro. Mexeu até com a minha vida: muitos clientes andam sumidos. Eu costumava engraxar 30 pares de sapato por dia. Agora o movimento caiu: são só uns 20 pares. E olha que eu fico das 7h da manhã às 7h da noite, há 14 anos! Acompanho tudo o que está acontecendo pelos clientes que ainda vêm e pela TV. Não tem pra onde correr. E ainda tem greve dos bancários pra atrapalhar!
Mulher também larga calçado para ser engraxado. Os homens preferem que a gente puxe assunto. Pergunto o que vier na minha cabeça no momento: da vida deles, de como vai o trabalho... Ou falo de futebol e está tudo certo. Se é o homem ou a mulher quem tem mais chulé? Ah, não posso falar isso, não. Pode me comprometer!
Eu já entrei na Bovespa, em 1994. Queria conhecer lá dentro. Caramba, é muito bonito! Chique mesmo. Fui num dia de trabalho normal: todo mundo gritava e falava no telefone mexendo os braços. Olha, acho que é mais ou menos igual ao que a gente faz aqui fora, viu? A gente também tem que catar o cliente que está passando na rua pelo berro. No fundo, no fundo, ser engraxate aqui é um bom ensaio para trabalhar na Bolsa.
COMUNICADO
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A ASSOCIAÇÃO DO ROCK DE MONTES CLAROS E REGIÃO - ARMCR, EM OBSERVÂNCIA DE
SUAS NORMAS ESTATUTÁRIAS E VISANDO REGULARIZAR SUA SITUAÇÃO INSTUTICIONAL,
INFO...
Há 12 anos
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