Sexo é bom e é difícil encontrar alguém que não goste. Por extensão, a compulsão sexual pode parecer algo desejável, coisa do mundo das celebridades, como já assumiram o ator Michael Douglas, o golfista norte-americano Tiger Woods e a apresentadora Adriane Galisteu. Porém, o vício em sexo não é nada agradável e significa sofrimento para quem o traz.
Para psiquiatras e psicólogos, é uma séria patologia, tão grave quanto uma dependência química e que prejudica as relações familiares e de trabalho do indivíduo em nome de um desejo insaciável. Para piorar, o tratamento com terapia e remédio é tão longo que a maioria dos pacientes não persiste até a cura.
Nessa hora, é necessário recorrer a grupos de apoio, como o Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa), que se reúne aos domingos no centro de Belo Horizonte. "Os grupos são de extrema importância para o tratamento, uma vez que 60% dos pacientes abandonam o consultório", informa o médico sexologista Gerson Lopes, coordenador do Departamento de Medicina Sexual do Hospital Mater Dei.
Que o diga o professor de idiomas e intérprete L. 31, compulsivo sexual que iniciou o tratamento terapêutico aos 16 anos, mas apenas em 2004, quando passou a frequentar as reuniões do Dasa, conseguiu controlar o vício. "Para conseguir sexo, cheguei a me envolver com marginal, fui assaltado e quase levei tiro", conta o tradutor, que já precisou sair do trabalho em pleno expediente para manter relações ou se masturbar. Quando recorreu à abstinência sexual, L. conta que descontou a compulsão na masturbação. "Achei isso também doentio", diz.
"Hoje, não apresento uma situação compulsiva, mas, quando é difícil encontrar a chave de liga e desliga, você precisa de ajuda", conta ele, referindo-se ao Dasa. Seguindo o padrão dos Alcoólicos Anônimos (AA) de "um dia de cada vez", no grupo, homens e mulheres de orientações sexuais diferentes e de qualquer idade (desde que acima de 18 anos) compartilham histórias e se ajudam com base no relato pessoal e sigiloso. O próprios participantes fazem leituras sobre os passos e tradições do tratamento. "Não acreditamos em cura, mas em recuperação. O compulsivo sexual vai ter que se tratar para o resto da vida", opina L.
Ele conta que o preconceito em torno do vício dificulta muitas pessoas a procurarem ajuda. No caso dele, o Dasa auxiliou para que não sentisse muitos pudores sobre a situação. "Relatei (a compulsão) em partes para a minha família, mas ainda é tabu", diz o tradutor, que atualmente coordena as reuniões semanais em Belo Horizonte, frequentadas em média por 12 pessoas e quase nenhuma mulher. "As mulheres não procuram se tratar, pois não querem ser mal-vistas", avalia L.
Os locais e hora dos encontros, diz L., são mantidos em sigilo, pois, do contrário, aparece gente em busca de sexo. "Preferimos não divulgar telefone nem local. É melhor direcionar (o interessado) para o site e o e-mail e lá as pessoas entendem sobre o programa. Não é para procurar parceiros", conta o tradutor. (Andréa Juste)
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