A distância dos grandes centros urbanos e a dificuldade de acesso têm espantado os médicos do Norte de Minas. Prefeituras da região estão enfrentando muitos obstáculos na tentativa de preencher as vagas, o que põe em risco a saúde da população. Nem mesmo salários que chegam a R$ 20 mil têm sido o suficiente para atrair profissionais.
A remuneração corresponde a jornadas de 40 horas semanais no Programa de Saúde da Família (PSF) e aos plantões, cujos rendimentos variam de acordo com a cidade. Na capital, o PSF paga R$ 7.192,00 para iniciantes - o valor pago pelos plantões depende da especialidade.
A resistência demonstrada até mesmo por recém-formados leva as cidades a promoverem verdadeiros "leilões" - algumas chegam a oferecer benefícios como moradia e alimentação.
Ainda assim, a pequena quantidade e a alta rotatividade de profissionais seguem sem solução.
Em Montalvânia, a comunidade foi atendida por pelo menos dez médicos diferentes nos últimos seis anos. A alguns quilômetros dali, em Manga, há vagas em aberto há mais de seis meses.
Eurico de Souza esperou uma hora por consulta em clínica particular de Jaíba
O resultado é a sobrecarga no sistema. O médico assume demandas de cidades vizinhas, e o paciente, que deveria ser assistido na atenção básica, lota as unidades de pronto-atendimento. Em Jaíba, por exemplo, sete das 12 equipes do PSF estão desfalcadas.
"Com menos médicos, as filas são maiores e a assistência fica prejudicada. Oferecemos moradia, fazemos anúncios, mas não adianta", lamenta a secretária de Saúde da cidade, Anny Queiroz. Sem sucesso na rede pública, o comerciante Eurico de Souza, 56, buscou uma clínica particular. "A dificuldade é geral. Estou aqui há uma hora, e isso porque estou pagando para ser atendido".
Em Itacarambi, a última médica chegou há apenas 15 dias. Paciente diabética, a doméstica Senhorinha Bezerra, 54, precisou ir ao hospital, pois não há profissionais no posto de saúde da comunidade rural em que ela mora. "Precisam me buscar lá", ressalta.
A sobrecarga se repete em Montalvânia. "Temos três médicos e precisamos de mais três. A ocupação no hospital dobrou, e pelo menos 20% dos leitos estão preenchidos", diz o secretário de Saúde, José Afonso Filogônio.
Algumas cidades da região estão praticamente isoladas. Para chegar a Manga e a cidades mais ao norte, é preciso pegar uma balsa ou enfrentar longas estradas de terra em péssimas condições. Até Montalvânia, um trecho de 64 km chega a ser percorrido em quatro horas, pois a rodovia passa por obras.
Não é apenas a dificuldade de acesso que inibe a ida ou encurta a permanência dos profissionais da saúde no Norte do Estado. "Às vezes, o interior serve como um trampolim. O médico faz um caixa e segue para a residência em uma cidade maior", exemplifica o clínico-geral Ulisses Leal, que deixou Montes Claros há três anos e meio para trabalhar em Jaíba.
Como não havia médico no posto, Senhorinha deixou a zona rural para ser atendida no hospital de Itacarambi
Em algumas localidades, há relatos de médicos que não ficam nem uma semana na função. As explicações são variadas, mas a complementação dos estudos é uma das mais comuns. "Quero ir para Belo Horizonte no fim do ano para fazer a residência. Mas, depois, pretendo voltar a trabalhar aqui", afirma Hermógenes Bruno de Souza, 32, que atua na cidade de Manga desde março de 2010.
Em algumas localidades, há relatos de médicos que não ficam nem uma semana na função. As explicações são variadas, mas a complementação dos estudos é uma das mais comuns. "Quero ir para Belo Horizonte no fim do ano para fazer a residência. Mas, depois, pretendo voltar a trabalhar aqui", afirma Hermógenes Bruno de Souza, 32, que atua na cidade de Manga desde março de 2010.
Muitos médicos afirmam não querer morar longe da família ou dos grandes centros urbanos. De Juvenília a Montes Claros (cidade-polo mais próxima), por exemplo, são 364 km. Se o destino é a capital, a distância é de 787 km.
A falta de médicos é a principal preocupação dos brasileiros quando o assunto é o Sistema Único de Saúde (SUS). A constatação é de uma pesquisa divulgada em fevereiro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Dos 2.773 entrevistados, 58,1% se mostraram insatisfeitos em relação à quantidade de profissionais. A demora no atendimento nos centros de saúde e hospitais aparece em segundo lugar, preocupando 35,4% das pessoas ouvidas.
Por outro lado, o trabalho realizado pelas equipes de saúde da família é considerado bom ou muito bom por 80,7% da população. (Thiago Nogueira)
3 comentários:
Em Manga a Prefeitura promete salários, mais não paga em dia. Tem medicos que sairam a mais de 3 anos e ainda não recebeu todo o seu dinheiro. Por isso esse vai e vem de medicos.
É lamentável que um assunto tão serio, seja tratado dessa forma como foi o caso do comentário anônimo. Gostaria que o cidadao que postou o referido comentario pudesse ser mais claro e se possivel enviar um email para comunicacaomanga@gmail.com com os nomes dos medicos que supostamente nao teriam recebido seus proventos.
A atual administraçao tem procurado honrar os compromissos feitos nao so com os medicos mas com todos os funcionários da Prefeitura.
Termino minha graduacao em medicina pela UNIMONTES agora em junho. Interessados ligar para o numero (38) 99370620 ou (38)91531501.
Grato.
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