sexta-feira, janeiro 13, 2012

ENCANTA-SE GENALDO, PROFESSOR COM ALMA DE MENINO

Faleceu ontem, quinta-feira, em Montes Claros, o diretor da Escola Estadual Felício Pereira de Araújo, professor Genaldo Pinto de Oliveira. Segundo seus amigos, Genaldo foi vítima, aos 46 anos de idade, da leptospirose, no Bairro Sumaré, onde morava. O sepultamento será realizado nesta sexta-feira, no Cemitério Parque Jardim da Esperança. Sobre o destacado educador e figura humana das mais respeitadas e queridas da sociedade norte-mineira, escreve a jornalista Márcia Vieira:

AO MESTRE, COM CARINHO
Gena, ao meio-dia recebi a triste notícia de sua partida, por meio de um telefonema do meu irmão Evandro. Ele, a minha cunhada Mônica e todas as pessoas que transitam pela área da educação sempre se referiram a você com palavras geniais. Não poderia ser diferente. Genial é você. Soube sempre, desde quando você acolheu a nossa turma no Indyu. A mais indisciplinada do colégio. Inquieta, sempre estive nas turmas indisciplinadas em todos os colégios onde estudei. E hoje eu tenho certeza de que a parte não ruim de ser ‘convidada a sair’ de um colégio ou reprovada ao final do ano, é que você terá que mudar pra outro, e consequentemente conhecer mais e outra gente. 
E, mudando de um a outro, conheci você. O único professor que sabia lidar com a nossa turma e, o principal, ensinar. Não éramos fáceis, porque adolescentes, de modo geral, não são fáceis. Nunca soubemos explicar por que você nos fascinava tanto. Entrava no nosso jogo, nas nossas brincadeiras, era um de nós, mas se fazia respeitar de maneira que nenhum outro professor conseguia. Com afeto e com humor. Nós te amávamos tanto que sonhávamos em tê-lo ao nosso lado como colega, não como mestre. E você foi colega e mestre pra ninguém botar defeito... Está certo que sua disciplina não era nenhuma matemática absurda, nem física sem lógica ou química que arde. Tampouco geografia, que enlouquece e muda de lugar ou a biologia que esmiúça e não atenua dores. A sua só poderia mesmo ser a mãe de todas as disciplinas, a língua que adoça ou que esgarça o coração e alcança a definição se não precisa, ao menos próxima do que vai no íntimo de cada um: a língua portuguesa.
A supervisora chegou a dizer certa vez, que abandonaria o magistério. Chamou-nos à sua sala, um a um, e conversou, quase chorando, em razão de um inocente passeio que tramamos às escondidas, uma espécie de piquenique ao Parque da Sapucaia, decretando feriado por conta própria na nossa sala. O passeio foi incrível! Pegamos o primeiro carro que passou pela Avenida Mestra Fininha, um caminhão, que aceitou nos transportar na carroceria por uns trocados. Eram muitos alunos e o dinheiro vinha de todos, do lanche de cada um que desejou colaborar para estar presente na aventura. Graças à amizade e solidariedade entre colegas, fizemos um belo passeio.  Convidamos alunos de outras turmas, um ou outro que costumava dividir conosco o primeiro horário da manhã, na padaria próxima ao colégio. O primeiro horário era nosso, para lanchar e bater papo, não para encarar os muros da escola, que de tão altos e sem janelas, nos fazia prisioneiros. Alguns aceitaram e nos acompanharam, mas a nossa turma compareceu em peso. Os professores não deram aula, pois não havia alunos. Dia seguinte foi um rebuliço no colégio. Os educadores queriam desistir de nós. Mas você nunca desistiu. Sabia que tudo o que queríamos era um pouco de liberdade e sonho. Entender a alma de um estudante era coisa que você fazia com primazia. Só nos restava, então, rendermo-nos aos seus encantos, e querer aprender.
Lá dentro, você era o nosso refúgio, o sol que despontava pela fresta e nos enchia de coragem. Coragem para estudar - veja bem -, porque para todos nós daquela turma estudar era ato insano. E você, de maneira toda especial, foi mudando a nossa mentalidade, nos fazendo ter consciência de que, para brincar e ser livre, era preciso primeiro ser responsável. Nunca deixou de nos sorrir e acarinhar. Nunca foi amargo ou hostil e, sem dúvida, foi o que melhor cumpriu o seu papel de ensinar. Sempre respeitado em seu ofício. Você conseguiu fazer com que amizade e responsabilidade andassem juntas. Na nossa turma, foi professor, aluno, colega, amigo, educador, foi meio pai e irmão de cada um. Um sorriso seu pela manhã desmanchava o nosso mau humor, o nosso medo de castigo e represália. Um sorriso seu nos tornava responsáveis e felizes no ambiente escolar.  Ainda hoje não sei o mistério que adorna a sua maneira humana de ser. Nenhum de nós conseguiu desvendar. O que sabemos é que você conseguiu, você fez certo.
Quando reencontramos os colegas vez por outra nessas ruas, o seu nome é sempre lembrado com saudade e com muito, muito amor. Hoje, toquei as suas mãos geladas e desejei que o seu voo fosse leve, cercado de tudo aquilo que você nos ensinou e deixou como marca: disciplina, afeto e educação. Eu ouso escrever em nome da turma que você amou, educou e acolheu.
Obrigada!
Beijos de saudade de Márcia Vieira, Ju Paixão Durães, Nara, Erikinha França, Saidin Campos, Duda, Valéria, Emerson Barbosa Meira, Luciano, Leopoldo, a turma do fundão e da cantoria. Beijos também da turma da frente e do meio porque afinal, pra você, não havia distinção. “...Foi com você que aprendemos a repartir tesouros, foi com você que aprendemos a respeitar os outros.... Queríamos tanto te abraçar, pra mostrar pra você que não esquecemos mais essa lição. Amigo, oferecemos esta canção ao Mestre com carinho....”

1 comentários:

Mara Narciso disse...

Parabéns, Márcia Vieira, pelo dom de nos emocionar. Eu que não conheci o professor Genaldo fiquei sabendo quem ele foi, através das suas bem dosadas palavras. Foi alguém que cumpriu tão bem o o seu papel, que nunca será esquecido.