sábado, março 31, 2012

RODRIGO SANTORO INTERPRETA VIDA TRÁGICA DE HELENO

"Agora está todo mundo sorrindo", diverte-se José Henrique Fonseca, ao lembrar que, há dois anos, a opção por fazer um filme em preto e branco era vista com reservas por grande parte dos distribuidores e exibidores. Antes de "O Artista" sair da cerimônia do Oscar com vários prêmios. "E olha que eu filmei um ano antes de eles dizerem 'Ação!", registra o diretor da cinebiografia de um dos primeiros ídolos do futebol, o mineiro Heleno de Freitas. A história estreou ontem, sexta-feira (30), nos cinemas.
Além da questão da cor, o filho do escritor Rubem Fonseca arregaçou as mangas para driblar outro tabu: o estigma de que o cinema brasileiro nunca conseguiu fazer um longa-metragem à altura da paixão que o futebol desperta no país. "Qualquer esporte com 22 pessoas em campo é difícil de ser filmado. É diferente do boxe, em que você só tem duas pessoas duelando. É impossível traduzir a emoção de uma partida de futebol", considera Fonseca.
Tanto no caso do preto e branco quanto na aposta de um tema considerado mal aproveitado, o cineasta justifica suas escolhas com um filme que está longe de simplesmente querer retratar a trajetória de um futebolista. "Meu personagem respira futebol, mas não necessariamente preciso mostrá-lo o tempo inteiro nos gramados. Quis mostrar o Heleno que foi vítima dele mesmo. Hoje ele seria diagnosticado como bipolar. Como o herói grego que tem seu nome, viveu uma tragédia".
Nascido em São João Nepomuceno, na Zona da Mata, em 1920, Heleno de Freitas foi o primeiro bad boy do futebol brasileiro, tão bom nos pés quanto na dedicação à boemia. O talento para brilhar com a camisa do Botafogo era inversamente proporcional à conduta extra-campo. Sempre foi polêmico, temperamental e soberbo, a ponto de constantemente chamar seus colegas de time de pernas-de-pau. Morreu em 1959, num sanatório de Barbacena, demente, por consequência de sífilis, que não quis tratar.
"Não quis fazer um resgate. Atentei mais para o lado dramático e cinematográfica da história de Heleno, que tem mais ingredientes que a do Garrincha, outro ídolo botafoguense, por exemplo. Os dois tiveram um final trágico, mas as complexidades na trajetória de Heleno foram maiores", compara Fonseca, lembrando que o atacante nunca participou de uma Copa do Mundo. Quando estava no auge, a Segunda Guerra Mundial impediu a realização da competição em 1942 e 1946.
O preto e branco ajuda a tornar essa dor ainda mais real, de acordo com o cineasta. "Traz muito sentimento à composição visual. Quando era estudante de cinema, adorava ver os filmes de Frank Capra e Ingmar Bergman. Tornou-se uma espécie de fetiche para mim. O preto e branco também é importante para dar certo glamour, mostrando um futebol mais romântico. Era comum ver jogador fumando nos vestiários", registra Fonseca.
Um dos achados do filme é a interpretação de Rodrigo Santoro, que vai de um jogador que usa dos atributos físicos para conquistar todo rabo-de-saia que cruze seu caminho ao perturbado interno de sanatório. "O Rodrigo sempre foi a minha escolha inicial. Paramos 40 dias para ele emagrecer 12 quilos e ganhar aquela forma esquelética", revela. O elenco tem o mineiro Maurício Tizumba, na pele de um enfermeiro. "Foi uma grata descoberta", elogia o diretor. (Paulo Henrique)

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