domingo, outubro 10, 2010

NA SEMANA DA CRIANÇA, ENTREVISTA ADULTA COM XUXA

Xuxa chega ao seu escritório na Barra acompanhada de um segurança e com seis batons nas mãos. O presente era para uma baixinha, que a esperava ansiosa. O encontro entre elas parecia aqueles de amigas de longa data. Xuxa não fala naquele estilo “tatibitati” constrangedor. Pelo contrário. Fala com a menina, de 3 anos e meio, como se fosse alguém de sua idade. Somente depois é que ela cumprimenta as outras pessoas que estão no local. A conversa com a revista “Canal Extra” aconteceu na sala de reunião da Xuxa Produções, no Rio de Janeiro. À vontade, a loura tirou os sapatos, sentou no chão e brincou com a fã mirim enquanto lembrava de quando a filha, Sasha, era pequena. “Morro de saudade da época em que ela era bebê. Vivo vendo fotos e DVDs, conta a eterna Rainha dos Baixinhos".
No papo, regado a pipoca, Xuxa não se negou a responder nenhuma pergunta. Sincera como poucas e sem papas na língua como nunca, a loura admitiu não ter voz para cantar ao vivo, desmentiu o romance com o cantor Victor, da dupla Victor e Leo, contou que Sasha pede um irmãozinho até hoje e que pensa em adotar uma criança. Falar nos pequenos, aliás, faz Xuxa se desmanchar. E se alterar também. A paixão por eles é tanta que, ao imaginar uma criança sendo maltratada, Xuxa se enfurece. “Quando fico sabendo desses casos de pais que matam seus filhos, fico louca, viro bicho. Acho que, um dia, vou ser presa, sabia? Se fico frente a frente com um monstro desse, tenho medo de fazer uma besteira”, diz, em tom sério. Mas não é por isso que Xuxa é sempre uma candura com a filha, de 12 anos. A apresentadora, que nunca levantou um dedo para a menina, afirma que Sasha não argumenta quando ela diz não e relembra um episódio em que um menino bateu em Sasha numa festinha. “Perguntei a ela: ‘Está gostando de apanhar?’. E ela: ‘Não, mãe’. Falei: ‘Então, faça alguma coisa porque se eu sentir que você está gostando de apanhar vou bater em você também’”. Quer mais? Confira a seguir mais revelações sobre a vida pessoal e a carreira da apresentadora do “TV Xuxa”.
— Em 2009, o kit “XSPB”, que traz os oito primeiros volumes, foi o DVD mais vendido no país. Esse tipo de notícia dá a certeza de que apostou certo nesse seu sonho?
— Claro! Provei que não sou louca, né? Mas o que me dá mais prazer é receber mensagens de mães me agradecendo porque o filho está comendo fruta por causa do DVD. Para quem ainda tem preconceito contra o que faço, sugiro dar uma olhada nos DVDs do “XSPB”. Não tem nada a ver com o que fazia antigamente, com a imagem que as pessoas ainda têm de mim. É um projeto de muita qualidade.
— Por que, então, trocou de gravadora no ano passado?
— Estava muito sozinha e precisava de mais apoio. Eu sou metida, sabe? Trabalho com os melhores profissionais do mercado! Preciso da fantasia, tenho que criar um cenário de sonho, preciso de um bom trabalho na minha voz, que não tenho, preciso de um aparato todo para que a criança se encante, tenho pedagogos e psicólogos na equipe e a gravadora me dá o mesmo orçamendo que um cantor que grava no esquema banquinho e violão? Não pode! Fui, então, em busca de parceria. Queria uma gravadora que me valorizasse e sonhasse junto comigo.

— Você nunca escondeu de ninguém que seu objetivo é ter um programa voltado para as crianças. Não tem receio de criar um problema com a Globo e se tornar aquela funcionária eternamente insatisfeita?
— Olha... (suspira) Sei que tem gente lá (na Globo) que não gosta de mim. Não sou burra. Mas tem muita gente que me adora, que torce por mim e que quer me ver mais feliz. Muita mesmo. E sempre que me perguntam se estou feliz com meu programa, digo: “Vou ficar mais”. Não sou a eterna insatisfeita, não. Só tenho vontade de trabalhar mais para as crianças.
— Gostaria de voltar a apresentar o “Xou da Xuxa”? É isso?
— Sei que hoje não temos mais espaço para o formato que eu fazia. Os tempos são outros, as crianças são outras. Parece que nascem com um chip diferente, né? Não tenho mais 20 anos, sei que estou velha para fazer a mesma coisa de 25 anos atrás. Mas falta uma atração para criança na TV aberta. Isso é fato. Para se fazer alguma coisa precisaria sentar com a minha equipe, estudar, criar. Já tenho
algumas ideias, sim.
— Além do “XSPB”, dos quadros infantis no “TV Xuxa” e da sua Fundação, você também é engajada em diversas campanhas sociais como “Não bata, eduque”, “Carinho de verdade”, “Campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes”, etc. De que maneira se envolve?
— Ligo pessoalmente para os ministros da educação e da saúde me oferecendo
para participar das campanhas. Não cobro nada e me dedico àquilo que acredito. Nada me fere mais do que ver o sofrimento de uma criança que não pode se defender. Quando fico sabendo desses casos de pais que matam seus filhos, fico louca, viro bicho. Acho que, um dia, vou ser presa, sabia? Se fico frente a frente com um monstro desse, tenho medo de fazer uma besteira. E o pior é que vou para uma cela comum, já que não fiz nem faculdade. Pensa bem. Se é para voltarmos no tempo da barbárie, de matança de criança, vamos, então, voltar também no tempo em que se apedrejava esse tipo de gente no meio da rua, não acha?
— Você parece mais afiada, sem papas da língua. Por que isso?
— Você acha? Não sei... Sabe o que acontece? Tenho quase 50 anos, tenho mais de 20 anos só de televisão (Xuxa estreou na Manchete em 1985 e foi para a TV Globo no ano seguinte). Cheguei num momento em que posso me dar ao luxo de escolher, de dizer não. Percebi que não preciso mais passar por determinadas coisas.
— Como cantar ao vivo no “Criança esperança”?
— Não sou cantora. Sempre brinquei com o fato de ter a voz fina, nunca tive problemas com isso. Mas não vou me expor cantando ao vivo, não posso. Não tenho voz para isso e os ouvidos dos meus fãs não merecem isso. Faço um trabalho lindo no “XSPB”, tenho o maior cuidado com o resultado final, apresento um produto de altíssimo nível e aí vou lá com essa vozinha (cantarola fazendo um som agudo e fino) cantar com a Maria Gadú? Você já viu essa mulher cantando? É um absurdo. A voz sai com uma facilidade... Entro no estúdio nervosa, tensa, faço a maior preparação do mundo e a Gadú entra como se fosse brincar (Maria Gadú gravou com Xuxa a música “Leãozinho” para o “XSPB 10”).
— No “XSPB”, muitas mães agradecem o fato de as crianças quererem experimentar alimentos novos por causa da última edição do projeto. Mas como dizem que santo de casa não faz milagre... Que dificuldades você teve na educação de sua filha Sasha?
— Nenhuma. A Sasha é perfeita. Juro. Ela veio pronta. Não tive nenhum problema para educar a minha filha. Claro que não podemos generalizar, tive toda a infraestrutura do mundo para criar a minha filha com tranquilidade, sossego. Só tinha que ser mãe e sei que nem toda mãe tem essa possibilidade. A Sasha ama os animais, ama crianças, o prato dela é o sonho de toda a mãe. Ela come de tudo, até jiló!
— Você diz “não” a Sasha?
— Digo, claro. Mas sou diferente daquela mãe que primeiro fala não. A minha primeira resposta é sempre sim. Aí, vamos conversando, ajustando as ideias. Então, quando falo não, ela nem argumenta. A Sasha tinha tudo para ser a menina mais mimada do mundo, a mais insuportável. Mas é exatamente o contrário. Ela faz a cama dela, leva o prato para a cozinha, limpa se deixou cair alguma coisa no chão. Não faz isso todo dia, claro, mas quando precisa fazer, ela faz sem o menor problema. Quando ela vai para a casa de uma amiga, as mães me ligam para elogiar. Morro de orgulho.
— Já deu alguma palmada na Sasha?
— Nunca! Sou contra! Não vale nem palmada, nem tapinha. Nada. Tapinha dói, menina. Olha, a Sasha tinha 1 ano e alguns meses e falava ainda meio errado quando virou e disse: “Mãe, você vai me bater?”. E eu: “Como? Por quê?”. E ela: “Porque apanhei muito da outra mãe”. Fiquei arrepiada. Como vou saber se isso foi bobagem de criança ou lembrança de alguma outra vida? A gente nunca vai saber, é o mistério da vida. Mas fiquei com aquilo na cabeça e pensei: “Se foi isso mesmo, Deus mandou essa filha para a mãe certa”. Quando vejo que vou perder a paciência, saio de perto para respirar. Sasha é assim também.
— E já brigou com ela?
—Já, claro. Uma vez, numa festa, vi um menino batendo nela e tirando a maior onda: “Tô batendo na filha da Xuxa”. E ela quieta, morrendo de vergonha. Fui me aproximando devagarinho e perguntei: “Está gostando de apanhar?”. E ela: “Não, mãe”. Falei (e imita em tom sério): “Então, faça alguma coisa, fale alguma coisa porque se eu sentir que você está gostando de apanhar vou bater em você também. Afinal, só faço o que você gosta”. Deu resultado porque ela deu um chega para lá no garoto. Minha filha não tem que ser saco de pancada! Não incentivo que ela bata, claro, mas não podia deixá-la ser uma criança boba.


— Se arrepende de não ter tido outro filho?
— Não sei se me arrependo... Não queria um outro filho só por ter. Não queria fazer inseminação artificial, ter um bebê sem um pai presente. Queria uma família, mas acabou não acontecendo. O tempo passou.
— Mas ela sente falta de um irmãozinho?
— Sente muita falta. E me cobra até hoje, sabia? Ela começou a pedir um aos 3 anos. Eu dizia: “Está bom, Sasha, com 6 anos você vai tirar isso da cabeça”. E ela, pequenininha, toda fofa, colocava a mão na cabeça e falava: “Mas não tem nada aqui, mãe”. Uma graça (e ri). E ela nunca deixou de pedir.
— Pensa em adotar uma criança?
— (pensativa) Penso... Mas não queria sair procurando. Queria encontrar uma alma gêmea, sabe? Queria bater o olho numa criança de, sei lá, 5 anos e falar: “Filho, onde você estava? Faz 5 anos que a gente não se vê!”. Entende o que eu falo? Se nas minhas andanças, encontrar essa criança, adoto na hora.
— Sasha te incentiva a namorar ou é ciumenta?
— Que nada! Ela dá a maior força para eu namorar, para encontrar alguém. Ela diz: “Vai, mãe, sai, mãe”. Só que é difícil porque assusto os homens e não sou muito de sair. Além disso, no pouco tempo que me sobra quero ficar com a Sasha.
— Já imagina como vai ser a Xuxa sogra?
— Acho que serei tranquila porque não sou ciumenta com ela, não. Só não vou conseguir lidar bem quando vir a Sasha chorar por causa de namorado. Meu coração deve doer!
— E, afinal, você está ou não está namorando o Victor, que faz dupla com o Leo?
— Não, isso é fofoca. Depois desse boato, ele já teve três namoradas. Não somos nem amigos próximos. A gente se fala por email, skype e tal, mas não sei onde ele está agora, por exemplo. Dos amigos, a gente sabe sempre. Sou muito amiga da cunhada dele, a Tatá (Tatiana Chaves, mulher de Leo, com quem tem Matheus, de 4 anos, e está grávida de outro menino, Antônio). Sei tudo sobre a gravidez dela. Mas não sou nem tão próxima do Victor assim.
— Mas se estivesse namorando ele, você falaria?
— Olha... Não vou convocar uma entrevista coletiva para contar. Mas também não vou ficar me escondendo. Quando eu estiver namorando alguém, as pessoas vão ver. Só não esperem que eu saia anunciando.
— Ainda se incomoda com a curiosidade sobre sua vida?
— Não... Fico chateada quando falam da minha filha, da minha mãe, dos meus amigos, da minha Fundação... Falar de mim não me incomoda mais. Leio e abstraio. Aprendi a lidar com isso. Namorei uma pessoa muito famosa e as pessoas diziam que era só para aparecer, depois namorei outra e falaram que o namoro era uma mentira, depois que eu só estava namorando para engravidar. Então, me diz, para que vou falar sobre um na-
moro?
— Mas ainda sonha com um grande amor?
— (pensativa) Poderia te falar que a Sasha me basta, mas eu não basto a ela. Não estou procurando ninguém. Mas se aparecer, não vou negar... (Reportagem: Carla Bittencourt)

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