Às costas, a identificação de Manuel. Da torcida, a reverência de Obibi. Os mais de quatro meses de Shandong Luneng dão ao baiano Obina, um dia entoado como melhor do que Eto’o, a dimensão de sua expedição pelo futebol asiático. Dono da camisa 10, ele leva a vida sem tanta badalação e coleciona histórias divertidas.
Fica feliz pela "marcação" individual do tradutor e, ao contrário da gula nos tempos de Flamengo, foge da culinária apimentada, obrigando sua mulher a peregrinar por três supermercados para encher a despensa.
Vibra por ter sido parado na rua por um chinês que, no celular, tinha vídeos das torcidas de Fla e do Galo mineiro editado com jogadas suas. Dirigir no trânsito confuso da China, nem pensar. Passageiro do mundo capitalista, Obina crê que, ao fim do vínculo, retomará sua carreira em alto nível. Pelo Shandong, em 13 jogos, marcou cinco gols pelo Campeonato Chinês e pela Liga dos Campeões da Ásia. Por ora, curte a aventura.
Já está adaptado à China?
Já estou há quase quatro meses na China e ainda não estou totalmente adaptado. Uma das maiores dificuldades é o idioma. Mas estou tranquilo porque tenho um tradutor, diariamente, desde a última semana. Desde que cheguei ao Shandong Luneng, o tradutor não ficava todos os dias com a gente e isso dificultava. Sinto saudades do Brasil, da família e do futebol brasileiro. O que mais sinto saudade é a emoção e a competitividade das partidas.
Como é sua alimentação?
Não tenho um prato preferido. Como a comida costuma ser apimentada, prefiro comer o simples. Eu como feijão, arroz, salada, frango. Também como muitas frutas porque a variedade é grande. De vez em quando vamos a uma pizzaria para jantar. Fui até a uma churrascaria, mas não foi muito bom. É tudo diferente, tentei comer picanha, mas a carne era muito dura.
Comeu aquelas iguarias no espeto? E carne de cachorro?
De jeito nenhum. Já vi essas iguarias nas ruas e, principalmente, nas feiras, mas não pretendo provar. Não provo carne de cachorro de jeito algum.
Conheceu pontos turísticos?
Não tive tempo. Logo que cheguei, fui ao Monte Tai, que é um ponto turístico da cidade onde moro. É bem alto e tem uma escadaria enorme. Pretendo ir a Pequim e conhecer a Muralha da China.
Você reconhece quando a torcida grita o seu nome?
Eles me chamam de Obibi. Eles tentam falar Obina, mas só alguns conseguem. Quando eles gritam da arquibancada dá para entender que é meu nome. Na minha camisa é que eles escreveram Manuel.
Qual a camisa que você usa?
Eu uso a camisa 10. Quando eu cheguei, ela estava sobrando e ninguém tinha pedido para usá-la. Os estrangeiros costumam usar a 10 na China.
Está valendo a pena essa aventura na Ásia?
Agora posso dizer que sim. No início, fiquei inseguro, mas agora estou aproveitando essas novas experiências. Mas sinto falta da emoção do futebol brasileiro. Na China, o futebol tem um bom nível, mas precisa evoluir.
Como é a estrutura do clube?
A estrutura é muito boa. O clube tem um centro de treinamento, três campos, academia, vestiários, tudo. No CT, temos ainda três prédios. Um deles é um alojamento para a comissão técnica e os jogadores chineses, o outro para os estrangeiros e mais um onde fica a presidência e as dependências sociais. O clube também tem um estádio bom com um campo excelente, um dos melhores daqui.
Como sua mulher vive aí? Vai ao mercado? Como é?
Minha família está bem. Tudo para a minha esposa Luciene é novidade. Para fazer as compras, por exemplo, ela precisa ir a três mercados porque não é possível encontrar todos os produtos num só. Tem um Carrefour, mas não é como no Brasil. Ela quer sempre ter alimentos básicos em casa, como feijão, arroz, frango, legumes etc. Mas, em geral, ela consegue comprar tudo.
Já enfrentou preconceito no país?
Realmente é muito difícil encontrar negros na cidade, mas não sinto e nem vejo as pessoas me olhando mais do que o normal. Não passei por nenhum caso de discriminação. (Guto Seabra)
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