domingo, agosto 07, 2011

MAIOR BARRACO NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Se um vizinho de porta indignado com o barulho vindo do seu apartamento lhe chama de macilento boquirroto, você diz: "hããã?". Mas se para ele — um reles mortal entre os condôminos — você é uma pessoa que solta ladridos, pipilos e arrulhos intoleráveis, aí não tem jeito, você pensa mesmo sem entender nada: - Está me sacaneando!
Tanta palavra difícil juntinha é difícil de entender, mesmo. Então, a melhor coisa a fazer é pegar o dicionário empoeirado na estante para não perder nenhum lance da briga entre dois ilustres imortais que animou, quinta-feira, o chá da Academia Brasileira de Letras.
Nos salões do elegante prédio da academia, no Centro, os colegas de imortalidade dos acadêmicos Lêdo Ivo e Eduardo Portella já estavam cansados de saber que os neurônios de um nunca cruzaram muito com os neurônios do outro. A briga começara ainda na década de 90.
Agora, durante a tradicional sessão com direito a chá das quintas-feiras — dizem as más línguas que não havia a bebida no sabor camomila —, Lêdo decidiu, usando expressão muito usada nas pendengas populares, "chutar o pau da barraca".
— Não pertenço à raça dos velhos trôpegos que, com a voz de falsete, emitem arrulhos (...); me confrange o coração assistir ao penoso espetáculo dos que, alcançada a velhice, ostentam em seu trajeto os sinais indeléveis da decadência física — acrescentou às palavras do primeiro parágrafo, sem citar o nome de Portella, alvo da ira.
O motivo dos impropérios seria a atitude do "amigo" que, na sessão da semana passada, conversava em altos decibéis enquanto e escritor Lêdo fazia um discurso. Um funcionário da ABL diz que Portella, ex-ministro da Educação, saiu sem nada falar.
Ontem, nem um nem outro apareceu na academia, embora houvesse uma cerimônia com o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello. As cadeiras 10 e 27 estavam vazias. O EXTRA não conseguiu encontrá-los. Mas falou com três imortais. Dois deles — Arnaldo Niskier e Ana Maria Machado — preferiram nada comentar. O outro, o baianíssimo João Ubaldo Ribeiro, garantiu que estava sabendo de tudo atrasado. Não tinha ido ao chá.
- O clima lá sempre foi muito bom - disse.
De qualquer forma, tudo indica que a briga não vai parar por aí. Pelo menos, é o que desejam os admiradores dos barracos literários: longa vida aos dois imortais!!!
Acompanhe as expressões usadas por Lêdo Ivo e os respectivos significados:
Trôpego — Que anda ou se move com dificuldade.
Arrulho — Voz, canto ou gemido característico das pombas e rolas.
Confranger — Quebrar com força, esmigalhar; contrair-se, apertar-se; afligir-se; angustiar-se.
Falsete — Tom de voz mais agudo do que o natural.
Indelével — O que é durável, permanente; que não se pode suprimir ou apagar.
Macilento — Magro, corado.
Boquirroto — Que fala muito.
Ladrido — Latido.
Pipilo — Pio de ave.
Vagido — Choro da criança recém-nascida.
Coaxo — O barulho que a rã faz.
Grasnido — Som característico de corvos e abutres; qualquer tipo de som alto; barulho.
Uivo — Voz triste e aguda de animais como cães, lobos e raposas; grito alto e contínuo de dor e tristeza.
Indecoroso - Que agride a moral , aviltante, vergonhoso.
Alçada — Erguida.
Póstumo — O que é posterior à morte de alguém; texto que vem a público após a morte do autor.
Florejante — Que floreja; florescente.
Inescondível — O que não se consegue esconder.
Farta — Cheia, cansada.
Devastada — Destruída, arruinada, arrasada, despovoada.
Ostentar — Exibir-se com luxo, alarde ou orgulho.
Confrade — Leigo que se associa a outros leigos com fins religiosos; alguém ligado a outras pessoas com os mesmos gostos ou profissão.
Ganido — Grito de dor dos cães ou parecido com o deles; voz aguda e estridente.
Belicosa — Que tende ou incita à guerra ou ao armamentismo; que é agressivo; violento.
Porejar — Sair pelos poros, suar, transpirar; cobrir-se de gotículas como se suasse.
Comiseração — Sentimento de piedade; compaixão.

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