TENENTE REFORMADO DO EXÉRCITO PRESO POR PEDOFILIA

O tenente Wendel Nassau Nether está preso no 55º batalhão do exército em Monets Claros.

Depois de ser preso pela polícia federal na última quinta-feira, 23, por posse ilegal de armas de uso restrito das forças armadas e suspeita de pedofilia no distrito de Adão Colares, comunidade rural da cidade de Botumirim, a casa caiu, literalmente, para Wendel Nassau Nether, tenente reformado do exército brasileiro em Montes Claros. Duas sobrinhas de Wendel compareceram à regional da PF em Montes Claros para denunciá-lo. Segundo afirmaram, durante a infância e adolescência, o tio frequentemente mantinha relações sexuais com diversas crianças, inclusive as sobrinhas, em Montes Claros e em Botumirim, onde provavelmente a prática acontece até os dias atuais. Os abusos teriam acontecido desde quando tinham dois anos de idade até o período da adolescência.

Apesar de mais de 17 anos terem passado e o crime ter prescrito, depois da prisão de Wendel Nether, as sobrinhas decidiram denunciar o caso à PF.

Segundo Fernando Bonhsack, chefe da polícia federal em Montes Claros, há cerca de dois meses, a PF recebeu uma denúncia dando conta de que o tenente reformado tinha armas na casa onde mora em Montes Claros e numa fazenda na cidade de Botumirim. Constava ainda na denúncia que ele abusava sexualmente de crianças na zona rural de Botumirim e guardava imagens de crianças mantendo relações sexuais com adultos.

- Todas as imagens são muito fortes, mas a que mais chamou a atenção foi uma em que a criança está de costas e um idoso apoiando o braço no ombro dela. Hoje, nós temos relatos chocantes de pessoas que foram vítimas dele no passado. E, provavelmente, ele continua abusando sexualmente de crianças naquela comunidade - afirma o delegado.

Segundo o chefe da polícia federal em Montes Claros, Fernando Bonhsack, outros casos estão sendo investigados.

Ainda segundo o delegado, além das armas apreendidas, um pen-drive foi localizado com as imagens das crianças. O tenente reformado atribuía a culpa a um filho dele e afirmava que não sabia da mídia eletrônica e que ela pertencia ao filho, este compareceu à PF em Montes Claros e negou o crime.

- Ele age como se fosse a coisa mais normal do mundo. Quer atribuir a culpa ao filho. Não tem escrúpulos. Ele acha que é um paladino representante da moral, mas não é - diz.

Fernando acrescenta que, além das duas sobrinhas de Montes Claros, uma terceira também denunciou a prática e ainda uma quarta vítima pretende vir à cidade para denunciar os abusos sofridos na infância e adolescência.

- Todas as denúncias vão servir para juntarmos aos autos do processo e do inquérito policial para mostrar à justiça que ele não possui uma boa índole para continuar vivendo em sociedade - afirma.

As denunciantes, com o intuito de incentivar que outras pessoas, membros da família ou não, compareçam à PF para denunciar as brutalidades sofridas por elas e provavelmente pelos filhos, que também estão sofrendo nos dias atuais, resolveram falar com a imprensa na manhã de ontem na sede da PF em Montes Claros, contudo, desde que os rostos e as vozes não fossem identificados.

Sobrinhas do tenente reformado têm medo de represálias caso o crime fique impune.

A primeira sobrinha a falar, hoje com 33 anos, emocionada e com os olhos cheios de lágrimas, lembrou que, quando tinha apenas dois anos de idade, sob ameaça do tenente de matar algum membro da família caso ela contasse para alguém, mantinha quase que semanalmente relações sexuais com ele. Com medo de morrer ou que ele matasse o pai, a mãe ou irmãos, ela permanecia em silêncio. Os abusos aconteceram até ela completar 16 anos, quando resolveu ir morar em outra cidade. Mas, ao voltar à região para rever familiares, ela era atormentada pelo tenente, que sempre falava: - Esse é o nosso segredinho. Não conte para ninguém, porque se não eu mato seus pais.

Ela disse ainda que escondia a irmã mais nova embaixo da cama para que ela não fosse a próxima vítima do pedófilo.

A segunda irmã a conversar com os jornalistas também não conseguiu conter o choro e as lágrimas. Ela contou que a infância e a juventude retirada precocemente dela e de diversas crianças não pode ficar impune.

- Nossa essência e pureza foram tiradas por um monstro. Muitas crianças e adolescentes podem estar sendo vítimas dele nos dias atuais. Nós vamos carregar isso para o resto de nossas vidas. Não vamos acabar com a pedofilia, mas vamos ajudar a combater esse crime para que outras crianças não sejam vítimas de atos monstruosos que nós sofremos. Agressões físicas podem cicatrizar, mas o que nós e outras garotas passamos quando éramos crianças e adolescentes não vai cicatrizar nunca. Abuso sexual é para o resto da vida - afirma.

Segundo o delegado da PF, foram descobertos mais três casos, todos envolvendo sobrinhas do tenente reformado.

- O que mais deixa me entristecido é ver o que ele fazia com as sobrinhas, filhas do próprio irmão. Depois que o caso estourou, elas decidiram falar a verdade sobre tudo que aconteceu na infância e adolescência. Isto deixou os próprios irmãos revoltados - diz.
A polícia federal também está investigando se o coral Capivara, de crianças da comunidade de Adão Colares, criado por Wendel Nether, tinha o objetivo de seduzir ou abusar dos menores, pois ele exigia que participassem apenas crianças e adolescentes.

Wendel Nether continua preso no presídio do 55º BI do exército em Montes Claros. Segundo o delegado da PF, o coronel Marcos Antônio Carpegiani assegurou que o pedófilo está detido numa sala segura, mas, provavelmente, a PF vai pedir à justiça a transferência do acusado para um presídio. (Reportagem: Rubens Santana)