Conflitos entre traficantes do Conjunto Felicidade, na Região Norte de Belo Horizonte, deixam moradores do bairro apreensivos há duas semanas. Nessa quinta-feira (20), um ônibus foi queimado por oito homens armados. A Polícia Militar não confirma que a ação seja resultado da disputa entre gangues, mas reforçou a segurança nas ruas para evitar novas ocorrências.
Encapuzados, os bandidos invadiram o veículo da linha 1505, que liga os bairros Tupi e Alto dos Pinheiros, por volta das 4 horas e renderam 17 pessoas. Em seguida, mandaram que as luzes internas do ônibus fossem apagadas e que o motorista dirigisse por mais dois quarteirões. No final da Rua 59, todos os passageiros, o condutor e o trocador foram obrigados a descer e deitar no chão.
Os criminosos atearam fogo no veículo. As chamas atingiram a rede elétrica da rua, causando explosões. O motorista Carlos Roberto, 54 anos, chegou a pensar que a intenção era matar algum passageiro. “Quando vi aquele monte de ninja fiquei com medo. Mas me mandaram fazer tudo que pedissem, que ficaríamos bem”.
Segundo o motorista, os bandidos ordenaram que ele avisasse à empresa responsável pelas linhas 1505 e 1505R que os ônibus não deveriam mais chegar até ao ponto final, que fica no centro do bairro. Os itinerários e horários de saída, porém, foram mantidos, deixando funcionários da viação apreensivos. “O medo continua. Vivi uma experiência horrível”, conta o trocador Tiago Guimarães, que também foi rendido.
O tenente Bruno Félix, da PM, classificou o fato como “atípico” e alega que a violência na comunidade caiu em 2010. Mas moradores contam que a disputa por pontos de tráfico na região ficaram intensas nos últimos dias. “Na semana passada houve um tiroteio e, no início dessa madrugada, também teve briga. De dentro de casa, nós só ouvimos os tiros”, disse um homem que pediu anonimato.
O Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) manteve cerca de 30 viaturas no Conjunto Felicidade, durante a tarde de quinta-feira, à procura de suspeitos que teriam ligação com o tráfico na região. Em 2010, bandidos atearam fogo em pelo menos três ônibus, em Contagem e Caeté, na Grande BH, e em Ipatinga, no Vale do Aço.
O incêndio do ônibus da Linha 1505 (Alto dos Pinheiros/Tupi) teria sido ordenado por um suposto chefe do tráfico em liberdade condicional desde a quarta-feira (19). O valor do veículo foi estimado em R$ 200 mil. Ao retornar ao Conjunto Felicidade, o suposto chefe do tráfico teria ordenado queimar o ônibus para impor respeito. A informação foi obtida pelo Hoje em Dia junto a fontes ligadas à comunidade do Conjunto Felicidade.
A ação terrorista, cujo objetivo seria impor o medo, zombar da polícia e criar um poder paralelo no bairro remete a ações semelhantes patrocinadas por traficantes no Rio de Janeiro onde, em novembro passado, vários veículos e ônibus foram incendiados. (
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