quarta-feira, março 11, 2009

NECO MARTINS, 102 ANOS, SERÁ SEPULTADO AMANHÃ ÀS 9H

HISTÓRIA
Manuel Martins quando comemorou 100 anos de vida - 90 anos de sua esposa, Odette Martins Rêgo e os 74 anos de casamento
Será sepultado às 09 horas de amanhã, quinta-feira, o corpo do fazendeiro Neco Martins, que está sendo velado na Santa Casa de Montes Claros. Neco moreu aos 102 anos de idade, por insuficiência cardíaca. Ele chegou a Montes Claros aos 20 anos, procedente de Urandi-BA. Aqui dedicou-se ao comércio e à agropecuária, constituindo família e participando de todas as atividades sociais da cidade. Teve 16 filhos, dos quais 13 estão vivos. Há dois anos, a repórter Naíma Rodrigues fez esta reportagem sobre os cem anos de Neco Martins:

Naíma Rodrigues
Repórter
onorte@onorte.net
- Eu vivo a vida com essa espontaneidade, sem nenhum mistério.
Essas são palavras de Manuel Martins, descrevendo o segredo da vida. Neco, como é chamado carinhosamente pelos familiares e amigos, completará 100 anos no dia 1º de setembro. Será realizada uma missa em ação de graças no dia dois de setembro, às 18 horas, na capela do Colégio Imaculada Conceição, em comemoração ao seu centenário, aos 90 anos de Odette Martins Rego, sua esposa, e pelos 74 anos de união do casal.
A família é constituída por 96 pessoas, sendo 16 filhos - Lúcia, Marlene, Lucília, Manoel, Zélia, Geraldo Magela, Henoch, Maria Milene, Luciene, Marcélio Tadeu, Saulo, Maria Imaculada, Sidney, e pelos filhos, já falecidos - Américo, Célia e Marcílio, por 35 netos 23 Bisnetos, um tetraneto e os respectivos cônjuges.
Com uma memória extraordinária, Neco Martins fala da luta para se tornar um comerciante de sucesso, e como conduzir um casamento sólido para educar 16 filhos.
TRAJETÓRIA
Nascido em 1º de setembro de 1906, na cidade de Urandi, na Bahia. Quando jovem, percorreu toda a região como tropeiro. Casou, sem saber, com sua própria prima, Odette. O casamento foi arrumado pelo pai da noiva, em 29 de janeiro de 1932, na cidade de Brasília de Minas, e o vestido da noiva foi emprestado por uma amiga do casal.
Após o casamento, o casal se mudou para a fazenda Santa Maria, próxima a São Francisco. No início, sofreram algumas dificuldades financeiras. Manoel Martins entrou no mercado de comércio vendendo, comprando e criando gado. Assim, começou a comercializar por toda a região.
Em 1939, houve seca na região da fazenda Santa Maria, onde a população local sofreu uma grande fome, contudo, ele não permitiu que ninguém passasse fome nas redondezas das suas terras, e para isso servia leite, farinha, feijão, e matava um boi por dia para servir à população.
Apesar de ter se casado com a prima de 1º grau, nenhum dos 16 filhos nasceu com deficiência. Os cincos primeiros partos foram concebidos pela parteira da região, em São Francisco, que recebia em troca alguns pequenos agrados como roupas, mantimento e sapatos. Os outros 11 filhos também concebidos de parto normal nasceram em hospitais. Odette Martins acredita que é covardia evitar filhos.
No ano de 1950 mudou-se com a família para Montes Claros - a cidade possuía cerca de 30 a 50 mil habitantes. As condições eram precárias, a luz era fraca e se apagava ao anoitecer. Em 1957, decidiu ir para Belo Horizonte com o intuito de educar os filhos. Nesse período administrava as fazendas que conquistou, o trabalho e a família. Enquanto os filhos cursavam a universidade, Manuel Martins trabalhava como comerciante levando mercadorias a Brasília de Minas, São Francisco e para toda a região.
PROFISSÃO
Trabalhou como correspondente do Banco do Brasil, pelo qual foi homenageado duas vezes, em 1990 e 2005. Também recebeu homenagem como melhor pecuarista criador de gado Gir. Ficou regionalmente conhecido pela sua participação na propaganda de uma semente de milho, quando concluía a peça publicitária com a seguinte frase.
- Se não for assim, não dá. Palavra de Neco Martins.
Com muito esforço, conseguiu formar todos os filhos. Mas, devido à violência da capital, optou por retornar a Montes Claros na década de 80.
- A terra de Montes Claros é abençoada pela mão de Deus, o povo é bom, a terra é boa - diz Manoel Martins.
REALIZAÇÕES
- Tudo que tenho foi trabalhando dia e noite como comerciante, tropeiro, e amansador de burro – diz Neco Martins, que se considera um vencedor por tudo que conquistou.
Construiu três igrejas - uma em Brasília de Minas, que recebe o nome de Senhor dos Martírios, uma na fazenda onde a festa da inauguração durou 10 dias, que foi batizada como Igreja de Imaculada Conceição, e, por último, em São Francisco, que recebeu o nome de São João Batista.
CASAMENTO
- Eu não sou homem de ter duas, três mulheres, não. Eu tenho minha mulher, e ela é minha mulher. Eu vivo por ela, e ela vive por mim, a prova disso é que eu tenho 16 filhos, e tudo controlado: são oito homens e oito mulheres - afirma Neco Martins.
O casal possui 74 anos e sete meses de união matrimonial, e comemora bodas de brilhantes. A esposa, Odette Martins afirma que o segredo da durabilidade da relação está na fé em Deus, e que se sente realizada, mas ainda deseja viver pelo menos mais 10 anos.
Um casal que acredita na força de Deus e que dedica suas vidas em função do próximo e na propagação da religião, catequizando as pessoas mais carentes, e lhes conduzindo para os caminhos do bem.
De acordo com a filha, Lucília, o pai sempre foi um homem carinhoso com os filhos.
- E um exemplo de dignidade para todos nós. Ele nunca permitiu que ninguém passasse por dificuldades. Meu pai é abençoado por Deus, por ter ajudado tanto aos necessitados - diz Lucília.
O HOMEM
Manoel Martins vivenciou fatos marcantes na história do mundo, como da primeira Guerra Mundial (1914-1918), a segunda Grande Guerra (1939-1945), a era Getúlio Vargas, dentre outros acontecimentos. Esses últimos 100 anos transformaram Neco Martins em um homem de experiência e sabedoria vivenciadas.
Uma figura carismática e espontânea, Neco Martins conduz a vida com um largo sorriso no rosto, recitando e cantarolando todos os dias pela manhã, na companhia da sua dedicada esposa Odette Martins, que lhe proporcionou os melhores momentos da sua vida.


2 comentários:

Anônimo disse...

Meu nome é Mírian Martins Macedo, sou sobrinha de Neco Martins e vivo há 30 anos em São Paulo. Fiquei comovida com a entrevista com meu tio querido que nos deixou faz poucos dias. Um dia antes de sua morte, eu dizia para Roxane, mulher do professor Olavo de Carvalho, que eu esperava viver muito e lhe falei dos 102 anos de Ti'Neco. Estive em Montes Claros em 2005 e fui visitá-los, tia Odete ainda estava viva. Quando cheguei, ele, vaidoso, apressou-se em colocar as suas dentaduras, pois queria que o visse bonito. Mostrou-me orgulhoso notícias e reportagens de jornais contando a sua história e da família. Que saudades dos dois. Agora, Ti'Neco e Tia Odete estão juntos no céu. Que interecedam junto a Deus por nós.

Anônimo disse...

Falar de meu pai é fácil demais. Duas palavrinhas somente para descrevê-lo: nobreza de carater e simplicidade no viver. Deixa atrás de si um percurso longo, mas no ar suas conversas e gargalhadas. E nos corações dos filhos, a certeza que ninguém no mundo teve um pai como ele. Doces lembranças. Tão doces como as frutas deste sertão que ele amou e abraçou como seu