A PERVERSIDADE DO SILÊNCIO
Na seara do amor, ou mais propriamente das paixões, as palavras têm um valor inestimável...Foram suas palavras que me cativaram. Escritas suas, houve que li e reli, em um misto de curiosidade e desejo. Palavras.
Você me encantou pelo falar, pelo contar...
“Tateando no escuro”, ou não, o complemento: palavras...
Mas, as palavras, de repente, sumiram.
Os gestos foram acompanhados pelo silêncio. Absoluto e reinante.
Sem palavras.
Sem respostas.
O silêncio fere, machuca, cutuca a natureza mais íntima...
A ausência de palavras – faladas, escritas, simplesmente palavras – dói muito...
O seu silêncio não deixou saudades. E quase destruiu a lembrança...
A perversidade do silêncio reside na permissão ilimitada ao pensamento: na ausência de palavras, pensa-se o que se quer.
Segundo aquela canção: “silence like a cancer grows”...
O seu silêncio foi impróprio... Foi exagerado. Egoísta. Imaturo. Perverso.
Subestimou a capacidade de entendimento.
Então, aquele canto dos pássaros, que alegrou nossa conversa, foi meu consolo... Como também o foi o som instrumental que nos acompanhou...
E aí, quase me perdi.
Quase e quase. Não à-toa usei o “quase”.
Sou um pouco mais que balzaquiana... isso é uma vantagem. Embora, na seara das paixões, sermos sempre aprendizes...
Há silêncios e silêncios.
E foi o silêncio do pós-amor, que me lembro bem, que ainda me fez acreditar que todo romance (romance?) vale a pena...
(Marília Borborema)
1 comentários:
Reginauro, vc é incrível. Estou até emocionada. Em silêncio...
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