quarta-feira, abril 16, 2008

CASAL CONTA O QUE OUVIU NO DIA DO CRIME

Um casal que mora em um prédio vizinho ao edifício onde ocorreu o assassinato da menina Isabella Nardoni contou, com exclusividade, ao "Jornal Nacional", o que teria visto e ouvido naquela noite. Os depoimentos trazem versões diferentes do que afirmam o pai da criança, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá.
Walter Rodrigues é consultor de segurança, e Ana Ferrari, advogada. Moram em um prédio a cerca de dez metros do Residencial London, prédio onde morreu Isabella. Na noite do assassinato, eles contam terem ouvido uma violenta discussão que vinha de uma janela quase em frente a seu apartamento. Era o quarto de Alexandre e Ana Carolina.
"Nessas discussões apareciam uma pessoa de voz feminina, principalmente, e a voz masculina, que pouco se ouvia. Mas a voz feminina ficou muito marcada, devido às palavras de baixo calão que se pronunciavam", afirma Ana. "Eram muitos palavrões."
A testemunha afirma que o que ouviu não se parecia com uma briga típica de casal. "Era uma briga de desespero", conta. Para a polícia, no entanto, Alexandre Nardoni afirmou que estava sozinho no apartamento. "E que a última discussão que teve com a esposa foi na semana anterior à morte de Isabella", diz o pai de Isabella no depoimento. "Uma briga rotineira de casal", segundo afirmou à polícia. Ana diz que a discussão durou cerca de 5 minutos, e foi sucedida por cerca de dez minutos de silêncio.
Ela e o marido já estavam deitados, se preparando para dormir depois de passarem o sábado passeando com as duas filhas. O casal conta que jamais imaginou que, tão perto deles, uma tragédia estivesse prestes a acontecer. Depois da discussão e do período de silêncio, o casal ouve gritos vindos de baixo: do térreo do Residencial London. "O que me chamou (a atenção) foi justamente quando a pessoa virou e falou assim: 'jogaram a Isabella do sexto andar'. Assim que aconteceu isso a minha primeira reação foi levantar, foi pular da cama e puxar a janela", conta a advogada. "Conforme eu puxei a janela eu já vi de frente pra mim a moça que nós ficamos sabendo depois que era a madrasta, andando de um lado para o outro."
Segundo a testemunha, Ana Carolina gritava muito. "Ela falava os mesmos palavrões que havíamos escutado do interior do prédio, do apartamento." De pijamas, o casal saiu correndo para ver o que estava acontecendo. O marido chamou o resgate, e descobriu que outras pessoas já haviam feito a mesma coisa. "Eu liguei para o 193 e falei: 'olha, estamos precisando de uma viatura de emergência, caiu uma criança do sexto andar'. Aí ela falou: 'senhor, a criança não caiu, ela foi jogada'. Aí você já começa a entrar em desespero, né, querendo chegar rápido ao local", conta Rodrigues.
O casal foi um dos primeiros a chegar ao prédio de Isabella. O portão estava aberto. "Quando nós entramos no prédio que eu já cruzei o hall de entrada eu vi o corpo da menina estendido no chão", diz a mulher. Segundo o marido, quando se aproximaram de Isabella, ela estava com os olhos abertos, a boca entreaberta e manchada de sangue. "Ela tinha o cortezinho na testa, mas não transparecia que estava sangrando nem nada. Parecia que o rosto estava limpo. Quando eu ia tocar nela para ver a pulsação eu virei e dei atenção ao pai, que saía do saguão do prédio", relata o marido. "Ele olhou para mim e disse que tinha uma pessoa armada no apartamento dele. Essa pessoa estava lá no sexto andar, e que o cara tinha jogado a filha dele."
Não é esse o relato do pai de Isabella no depoimento à polícia. Ele não faz nenhuma menção à existência de uma pessoa armada dentro do apartamento. Também não diz que viu alguém jogar a filha pela janela. Ana também diz ter ouvido Alexandre Nardoni afirmar que havia um ladrão no apartamento. "Ele (Alexandre) disse que tinha cruzado com o ladrão e que a porta dele havia sido arrombada." Mas no depoimento à polícia Alexandre apresenta uma outra versão: ele "acredita que a pessoa que esteve dentro do apartamento tenha uma cópia da chave da porta, porque não houve arrombamento", de acordo com o inquérito.
Ela também viu a madrasta nos instantes seguintes à queda. "Ela ficou a maior parte do tempo do outro lado da rua, gesticulando, xingando, e dizendo que não havia segurança no local." A mulher conta ainda que Ana Carolina culpava os vizinhos pela falta de segurança. "Foi uma situação totalmente constrangedora para quem estava ali presenciando aquele fato." A advogada foi chamada para depor na última quinta-feira. Ela afirma que tudo o que disse ao "Jornal Nacional" foi relatado à polícia, e, se necessário, seria repetido diante do juiz. "O nosso objetivo principal é saber o que aconteceu, porque nós também temos filhos. É necessário que se saiba o que aconteceu realmentem, para que nós possamos ter sossego nos próximos dias."
Outro lado
O advogado do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, Marco Polo Levorin, negou todas as informações apresentadas pelas testemunhas. "Não houve brigas. A vizinha do apartamento superior não ouviu discussão", diz Levorin. Segundo ele, Alexandre nunca disse ter visto uma pessoa armada dentro do apartamento. "Ele disse, sim, que precisaria fazer uma varredura no prédio, enfim, vistoriar os apartamentos para que pudesse achar alguém que tivesse lançado a menina", afirma Levorin. De acordo com o advogado, Alexandre Nardoni também nunca afirmou que o apartamento teria sido arrombado. "O depoimento dele é coerente, o depoimento dele é lógico, não há mentira no depoimento, não", diz.

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