quarta-feira, fevereiro 02, 2011

PROMESSA NÃO VALE, EGITO QUER RENÚNCIA DE MUBARAK

Centenas de milhares de pessoas se concentraram pacificamente em uma praça do centro do Cairo para participar da "Marcha do Milhão", convocada no oitavo dia de uma revolta popular que pede a renúncia do presidente egípcio, Hosni Mubarak. Outras dezenas de milhares também se manifestaram em Alexandria (norte), segunda cidade do país, constatou a AFP.
Este dia de mobilização foi chamado de "marcha do milhão", pela multidão que deveria atrair. A oposição afirmou que "não fará negociações" até que Mubarak, de 82 anos, no poder desde 1981, apresente sua renúncia, fechando assim a porta ao diálogo aberta na véspera pelo vice-presidente Omar Suleiman.
Na capital, os manifestantes lotaram a Praça Tahrir (Praça da Libertação), epicentro dos protestos, sem que tenham sido registrados enfrentamentos até as 19 horas (17 horas de Brasília).
 Em meio à multidão havia famílias inteiras, com crianças que brincavam de guerra. Os pedestres batiam palmas ao passar em frente a um boneco que representava o presidente enforcado, com uma estrela de Davi na gravata e maços de dólares nos bolsos.
 Ao cair da noite, dezenas de milhares de pessoas permaneciam sentadas e de mãos dadas na praça cantando músicas da lendária cantora Umm Kalzum. Alguns grupos de manifestantes fizeram fogueiras para enfrentar a fria noite do Cairo.
"Mubarak vá embora, nós ficamos", gritavam os manifestantes determinados a permanecer na praça até a renúncia do presidente.

Os militares que cercavam a praça davam a impressão de estar mais tranquilos do que ao meio-dia. O exército - um dos pilares, junto com a polícia, do regime autoritário egípcio - deixou claro na segunda-feira (31) que considerava "legítimas" as reivindicações do povo e anunciou que não recorreria à força contra os manifestantes.
A marcha de Alexandria, que nas primeiras horas da tarde reunia centenas de milhares de pessoas, foi convocada em resposta à decisão das autoridades de interromper o tráfego ferroviário desde a segunda-feira para impedir o acesso ao Cairo.
Um comitê de forças oposicionistas afirmou que rejeitaria qualquer negociação com o governo enquanto Mubarak permanecesse no poder. A oposição reúne forças políticas com ideologias díspares, desde a oposição leiga até a islamita, passando por cibernautas que desencadearam o movimento.
O ex-diplomata Mohamed ElBaradei, que está se impondo como uma das referências desta coalizão, instou Mubarak a deixar o poder "no mais tardar na sexta-feira (4)", em declarações à emissora de televisão Al Arabiya. A Irmandade Muçulmana, grupo de oposição mais influente do país, pediu que as manifestações prosseguissem até que o regime caia.
O balanço de vítimas dos enfrentamentos com as forças de segurança pode chegar a 300, um número muito superior aos 125 contabilizados até agora, segundo dados ainda a confirmar da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.


O Egito, o mais populoso dos países árabes, com 80 milhões de habitantes, é um aliado do Ocidente e administra o Canal de Suez, essencial para abastecer com petróleo os países industrializados. É, além disso, um dos países árabes a assinar um tratado de paz com Israel. O outro é a Jordânia.
Por tudo isso, o desenlace desta crise gera ansiedade mundial. Os Estados Unidos ordenaram a saída do país do pessoal não essencial de sua embaixada no Cairo. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, exortou Mubarak a responder "sem hesitação" à "vontade de mudança". E a França disse que "o banho de sangue deve cessar". Israel, por sua vez, chamou a comunidade internacional a "exigir" a qualquer governo egípcio que respeite o tratado de paz com o Estado hebreu, segundo um comunicado do premier Benjamin Netanyahu, que aludiu ao fantasma de um regime ao estilo iraniano.
As autoridades tentaram, em vão, desobstruir os contatos entre os organizadores dos protestos e a população. Na segunda-feira, o último provedor da internet deixou de operar. Por conta do clima de instabilidade na região, o petróleo é negociado pela primeira vez em dois anos acima dos 100 dólares o barril. (Fátima al Bacha/AFP)

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