A equipe que faz buscas de desaparecidos políticos da época da ditadura militar (1964-1985) encontrou restos mortais no interior de um ossuário clandestino localizado debaixo de um canteiro, onde havia um letreiro do cemitério Vila Formosa, na zona Leste de São Paulo. Os peritos acharam restos mortais no interior de sacos.
Segundo o procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, autores de uma ação civil pública que pede a responsabilização das autoridades públicas que autorizaram a ocultação de cadáveres de opositores mortos pelo regime, os trabalhos dos peritos prosseguirão até sexta-feira.
A fase seguinte é selecionar ossadas para pesquisa antropológica, nas quais fotos, dados médicos e dentários das vítimas serão cruzados com as características das ossadas.
Essa primeira fase será realizada em conjunto pelo Instituto Médico Legal (IML) e o Instituto Nacional de Criminalística (INC), que extrairá dos ossos o material genético para a segunda fase, na qual serão confrontados com o material colhido dos familiares das vítimas e que compõe o banco de DNA.
A equipe que realiza as buscas é formada por representantes do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP), da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do INC do Departamento de Polícia Federal (PF) e do IML do Estado de São Paulo.
Os trabalhos de busca no cemitério Vila Formosa, iniciados no dia 8 de novembro, têm por objetivo localizar os restos de aproximadamente dez desaparecidos políticos, entre os quais, os de Virgílio Gomes da Silva, conhecido como Jonas, líder sindical dos químicos que mais tarde acabou liderando o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura.
Para o MPF, o trabalho será muito difícil, principalmente se as ossadas não tiverem sido acondicionadas adequadamente. Caso não ocorra identificação positiva, o MPF irá requisitar que no local seja erguido um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos na ditadura militar.
É o que deseja a viúva de Virgílio, Ilda Gomes da Silva, que há 41 anos espera encontrar os restos mortais do marido. "Mesmo que não se localize o corpo dele, que pelo menos se faça uma homenagem a ele e aos demais desaparecidos. São mais de 400 pessoas. Pelo menos, eles lutaram", disse ela, que acompanhou as buscas.
Até a construção do Cemitério de Perus, os cadáveres dos militantes políticos eram enterrados em outros cemitérios públicos, sendo o mais conhecido o de Vila Formosa.
A família de Virgílio Gomes da Silva obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele teria sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969. Essas informações foram repassadas aos procuradores, que realizaram uma série de diligências preparatórias no cemitério. No trabalho de buscas foi constatado que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas.
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